Revista Rua


A Construção das representações identitárias: o brasileiro clandestino deportado

Marcos Barbai

passarem pelo guichê da Polícia Federal, para averiguação do passaporte e preenchimento de ficha para esclarecer o motivo da deportação, tinham de esperar um tempo até serem liberados.
Os relatos não são tomados, aqui, como formas de articulação de poder (como os relatos da época da colonização que, falando do novo mundo, tentavam dominá-lo) ou ainda os relatos dos sobreviventes de catástrofes (guerra, nazismo etc., que se marcam em dois tempos: o tempo da vivência do testemunho e o tempo da vivência de transmissão). Eles são um espaço de enunciação aberto, espaço de irrupção dos jogos de filiação a uma rede de memória, uma relação aberta com os sentidos, impondo à análise toda uma não-regularidade.
Partimos do pressuposto de que o sujeito ao se organizar para migrar, solicitando um visto de turista para um país qualquer, entrando nesse território e lá permanecendo, isto é, ‘ignorando’ o tempo de estadia designado por lei, não se determina como ilegal, ele sofre esse efeito de determinação em sua posição subjetiva.
Na fronteira ele é um corpo normativo, subjugado aos efeitos de identificação legais; permanecendo sem autorização no território ele é um corpo apagado. Quando o imigrante é descoberto pelas autoridades de imigração sofre efeitos outros da norma: o seu corpo deve ser mostrado ao poder, exibido para que a autoridade o aprisione. Após, a imobilização, ele é identificado e expulso.
Esse processo demonstra que o estatuto do estrangeiro não é somente uma contraposição em relação ao nacional, ao nativo. O sujeito é expulso porque sua alteridade produz horror. Assim, é preciso naturalizar, dar um estatuto, representá-lo: um monstro, um criminoso. Queremos apenas habitar com o outro idealizado, isto é, fazer sua experiência sem sua alteridade.
Abril de 2005, cinco horas da manhã, Aeroporto Internacional de Guarulhos. Havíamos recebido a autorização para efetuar nosso estudo de campo. No terminal de desembarque internacional a tela apontava que, a cada cinco minutos, um vôo em direção ao Brasil deveria aterrissar.
                Angústia. Após uma fila se formar para que os estrangeiros tivessem a documentação averiguada pela polícia federal, avistava-se, de longe, um comissário de bordo com um malote em suas mãos seguido por um grupo de pessoas. Estas paravam em