Revista Rua


Do silêncio angustiante aos sentidos desviantes: Subversão discursiva na microesfera do exercício de poder
(Of the silent distressing to the senses deviant: Discursive subversion in the microsphere of the exercise of power)

Camila Targino e Souza, Cristina Teixeira Vieira de Melo

isto proporcionava um aumento da capacidade de reproduzir detalhes finos. (REILLY, 1980, capítulo 4, tradução livre.).
 
Para finalizar a produção de uma imagem positiva é necessário revelá-la com um revelador e fixá-la com o hipossulfito de sódio. Michel Frizot (1998: 68) explica que um revelador à base de ácido gálico foi utilizado por Louis Désiré Blanquart Evrard para revelar o positivo em albúmen, diminuindo o tempo de exposição do papel fotossensível com o negativo ao sol[11] e aumentando a velocidade da produção em série das cópias em claras de ovos. Reilly explica o encantamento que a albumina exerceu nos consumidores das cartas de visita nos idos dos anos cinqüenta do século XIX:
 
É fácil compreender a rápida aceitação que os papéis de albumina ganharam do meio para o final da década de 1850. Uma impressão em superfície de papel brilhante foi uma novidade. Uma cópia em albumina, realizada a partir de um negativo de vidro, possui tons profundos, com ricos e finos detalhes, incorporando muitas qualidades a uma única fotografia.(REILLY, 1980: 5, tradução livre).
 
Descrevemos a visualidade e o modus operandi das cópias em albumina para relacioná-la com as epistemes propostas por Foucault (2002) para o século XVII e parte do XVIII. Segundo o autor, a gramática de Port-Royal foi a maior representante francesa dos estudos do binarismo sígnico: no interior do conhecimento existia a coisa representada e uma outra que a representa; uma idéia que é significante e uma outra que é significada. Para esses gramáticos a natureza da linguagem seria racional. Porque os homens pensam, através da faculdade da razão, a linguagem expressa seu pensamento de maneira transparente. Dessa forma, assim como o significante se refere ao que indica através de uma representação precisa, o conteúdo dessa representação distancia-se de ruídos ou equívocos semânticos.
 
De fato, o significante tem por conteúdo total, por função total e por determinação total somente aquilo que ele representa: ele lhe é inteiramente ordenado e transparente; mas esse conteúdo só é indicado numa representação que se dá como tal, e o significado se aloja sem


[11] As cópias positivas produzidas no século XIX foram realizadas na luz do sol. A figura do ampliador de negativos não existia nos estúdios fotográficos. Costumeiramente, sobretudo nos estúdios da Europa, uma janela grande era construída estrategicamente para que a luz do sol alcançasse uma estante de madeira repleta de pranchas para copiagem de positivos em fotografia. Essas pranchas tinham um funcionamento simples: um sanduíche de vidro prendia um negativo em conjunto com um papel fotográfico virgem. Mediante a ação da luz solar, os valores tonais da imagem em negativo seriam revertidos para os valores tonais de um positivo, produzindo uma cópia por contato.