Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

INTRODUÇÃO
 
O que se denomina divulgação científica hoje, segundo alguns pesquisadores, (BUENO, 1984; ZAMBONI, 2001) pode ser relacionada a um conjunto de materiais que vão desde revistas, programas de TV e de rádio passando por livros didáticos, aulas de ciências do segundo grau, até revistas em quadrinhos. E tem, imaginariamente, como função colocar “em linguagem acessível” os fatos/pesquisas científicas, os quais seriam herméticos e incompreensíveis para os sujeitos não especialistas.
Interessa-me, dentre esses materiais, aqueles produzidos na articulação entre a ciência e a mídia, pelo que é, tradicionalmente, chamado jornalismo científico. Nesta relação, o discurso da ciência é re-significado a partir da sua “publicização”, ou seja, a ciência é "retirada" do seu meio de circulação tradicional e levada a ocupar um lugar no “cotidiano” do grande público. O efeito de sentido que aí se estabelece é o que podemos chamar de “efeito de informação científica”, em que o “conhecimento” científico passa a “informação” científica. (ORLANDI, 2001).
Neste funcionamento o discurso de divulgação atua como um discurso sobre (MARIANI, 1998) em que, ao falar sobre ciência coloca-se entre esta e os sujeitos não especialistas buscando estabelecer uma relação com um campo de saberes já conhecido pelo interlocutor. Os sentidos aí produzidos, por um lado, mostram a ciência, na maioria das vezes, apenas em seus resultados, como produtos acabados (notícia) e, por outro, constroem a imagem de um leitor de ciência que se constitui pela falta de conhecimento/informação, o que imprime a necessidade de um didatismo ao discurso de divulgação. De tal modo, através de recursos lingüísticos como definições, explicações, estatísticas, citações, analogias, e outros como esquemas, desenhos e fotos, este discurso desloca o conhecimento científico que passa a significar a partir das condições de produção do discurso jornalístico.
O discurso de divulgação científica, nesse caso, se inscreve num espaço de negociação entre as formações discursivas (FD) da mídia (jornalismo), da ciência e do grande público (não especialistas), sendo esta negociação determinada por uma interdiscursividade que vai ela mesma produzir, através de encadeamentos e articulações a delimitação entre estas FDs, as quais não se constituem independentemente, mas sim reguladas no interior do interdiscurso. De fato, a relação interdiscursiva, como propõe Guimarães (apud ORLANDI 1996: 68) não se dá partir de discursos já particularizados, é ela própria, a relação entre discursos, que dá a