Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

Albert Einstein. Einstein propõe que o tempo e o espaço não são absolutos nem tão pouco independentes já que se constituem relativamente (Teoria da Relatividade Geral) e mais ainda, são deformáveis pela matéria (Teoria da Relatividade Restrita). A partir disso, o espaço e o tempo deixam de ser concebidos separadamente e passam a ser considerados como algo único. Surge o espaço-tempo. O conceito de gravidade é também totalmente revisto sendo entendido não mais como uma força que atrai os objetos, mas como uma força resultante da deformação do espaço-tempo que empurra os corpos em direção a outros objetos de maior massa. A teoria da relatividade, assim, de uma forma desestabilizadora, apontava para uma visão da realidade que, ao mesmo tempo, que se mostrava para os não especialistas contra-intuitiva, era para a ciência estabelecida um ponto de ruptura com seus pressupostos mecanicista e determinista.
Entretanto, a mesma linguagem matemática e lógica que possibilitou o desenvolvimento da mecânica newtoniana e seus efeitos, também foi responsável pelas descobertas de Einstein, o que não implicava, portanto, estar em jogo, no discurso da ciência, nesse momento, uma negação de certo pré-construído envolvendo a infalibilidade da lógica-matemática. Dito de outra maneira, os sentidos constituídos pela relatividade garantem, ainda, para a lógica-matemática o status de metalinguagem, que através da demonstração (axiomática e algorítmica) e da verificação (objetiva) é capaz de descrever, de forma inequívoca os fenômenos. Isso envolve a aceitação de um real independente do sujeito e acessível por essa metalinguagem. Um enunciado de Einstein, logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, quando lhe oferecem a presidência do novo estado de Israel, da qual ele declinou, materializa os sentidos do discurso da ciência que sustentava sua posição enquanto cientista: “A política é para o momento, mas uma equação é para a eternidade” (Hawking, 2002: 26).
Curiosamente, no discurso da ciência assim logicamente constituído, outra ruptura, essa agora muito mais desestabilizadora começa a se estabelecer. Determinada pelo processo de “demarcações e acumulação ideológica” que, segundo Pêcheux e Fichant (1977), “precede necessariamente o momento do corte e determina a conjuntura na qual este se produzirá”, essa ruptura ou corte é o que se convencionou chamar mecânica quântica, a qual traz profundas implicações para a maneira como a ciência, a partir desse momento, passa a ver a realidade e a participação do sujeito no processo científico.
O aspecto perturbador da teoria quântica envolve as idéias de Wener Heisenberg, que, em 1926, formulou o “Princípio da Incerteza”. Esse princípio surge da