Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

Essa situação envolvendo a constituição dos sentidos da lógica no discurso da ciência, mostra também um rompimento com o pré-construído da lógica clássica (disjuntiva e portanto absoluta no que diz respeito a verdade). De fato, de acordo com Chateaubriand (2008)[5] a concepção semântica da verdade de Tarski conduziu à consolidação da concepção lingüística e matemática da lógica na sua forma atual. Diz ainda, que a concepção absolutista de lógica que se encontra em Frege, em Russell e até mesmo em Hilbert, deu lugar a uma concepção relativista de lógica centrada na teoria de modelos e na teoria da prova como teorias de sistemas formais. O que, evidentemente, a aproxima dos fundamentos da mecânica quântica.
Já o teorema da Incompletude de Gödel proposto pelo matemático Kurt Gödel, em 1931, na mesma época das propostas de Tarski, envolve também uma ruptura com o discurso da ciência nos seus sentidos até esse momento constituídos sobre a natureza da matemática. O teorema, nas palavras de Hawking (2001: 139), propõe que “dentro de qualquer sistema formal de axiomas, como a matemática atual, sempre persistem questões que não podem ser provadas nem refutadas com base nos axiomas que definem o sistema. Em outras palavras, Gödel mostrou que certos problemas não podem ser solucionados por nenhum conjunto de regras e procedimentos”. Hawking diz ainda que foi um grande choque para a comunidade científica, pois derrubou a crença generalizada de que a matemática era um sistema coerente e completo baseado em um único fundamento lógico.
Isso posto, podemos considerar que esses fundamentos, construídos pelos sentidos da incerteza (HEISEMBERG, 1927), do indefinível (TARSKI, 1930) e da incompletude (GÖDEL, 1931), materializam a discursividade da ciência contemporânea, que se constrói contraditoriamente ao negar os sentidos até então construídos sobre a verdade e a subjetividade. De fato, a verdade absolutizada através dos grandes esquemas explicativos, já não mais se sustenta de forma hegemônica, já que, segundo Lyotard (2002), as transformações de ordem cultural pelas quais passa a sociedade contemporânea, envolvem o fim das metanarrativas. Conseqüentemente, segundo ele, os grandes esquemas explicativos teriam caído em descrédito e não haveria mais garantias, posto que mesmo a ciência já não poderia ser considerada como a fonte da verdade.