Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

Lederman, respectivamente, não julgam imperativo livrar o seu discurso da ambigüidade através “de uma ‘terapêutica da linguagem’ que fixaria enfim o sentido legítimo das palavras, das expressões e dos enunciados” (PECHEUX, 1982: 60):
 
Niels Lynnerup, que usou o que a ciência tem de mais poderoso para penetrar nos segredos do Homem de Grauballe e que pode ver em seu computador as imagens tridimensionais dos ossos, músculos e tendões desses corpos, não se incomoda com os mistérios renitentes. “Coisas estranhas acontecem no pântano. Sempre haverá alguma ambigüidade”. Ele sorri. “Até gosto da idéia de haver mistérios que nunca desvendaremos”. (National Geographic Brasil, 2007: 94) (Grifo nosso)
 
 
Só podemos dizer que a natureza parece ser assim: a palavra incerteza por toda parte. [...] O Princípio da Incerteza pode ser chamado de princípio da tolerância no sentido de engenharia sim, eles fazem funcionar mesmo se o ajuste não for perfeito. Mas tolerância no sentido humano, precisamos ter pessoas perguntando umas às outras o que você acha? Qual é a sua opinião? Pode ser confortante para algumas pessoas ter certeza, certeza de que vai comer, certeza de que vai beber, de que vai fazer amor, mas certeza absoluta? Certeza absoluta é entorpecimento, é enfado. Nós precisamos da incerteza, é o único modo de prosseguir (LEDERMAN, 2001, Episódio “Tudo sobre a Incerteza”, Programa Discovery na Escola) (Grifo nosso)
 
 
Resta saber se o discurso dos cientistas, “a quem chamam de fabricantes-utilizadores de instrumentos” e que “por muito tempo, achavam poder escapar à questão de saber para que eles servem e quem os utiliza” (Pêcheux, 1982:.61), pode, numa sociedade como a nossa, se sustentar por deslocamentos que jogam com o equívoco, com a ambigüidade. Talvez seja necessário que também os literatos, que, segundo Pêcheux (1982), acreditam poder ficar à distância da adversidade que ameaça historicamente a memória e o pensamento, abandonem a casa de seu mundo de arquivo particular. Leon Lederman já abandonou o seu mundo e está perguntando o que achamos: qual a nossa opinião?
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
 
BOHR, N.. Física Atômica e Conhecimento Humano. Ensaios 1932-1957. Rio de Janeiro.: Contraponto, 1995.