Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

A subjetividade, por sua vez, sustenta-se pelo embate entre o sujeito “dono de si” e apartado da realidade que procura representar e o outro, constituído pela incerteza e pela necessidade freqüente de transformação:
 
A meu ver, cada um de nós, hoje, é feito de uma briga ferrenha entre, de um lado, um agonizante homem moderno, porta-voz ou cavalo de seus fantasmas, fazendo de tudo para sobreviver e, de outro lado, um homem contemporâneo, porta-voz ou cavalo do estranho que o habita, fazendo de tudo para advir. (ROLNIK, 1995: 57) 
 

O DISCURSO DA CIÊNCIA E O DISCURSO DE SUA DIVULGAÇÃO: ENCADEAMENTOS, ARTICULAÇÕES E DELIMITAÇÕES
 
 
Muita gente (inclusive eu) acha que o surgimento de um Universo tão complexo, estruturado com base em leis simples, exige o apelo de algo chamado “princípio antrópico”, que nos remete de volta à posição central, a qual por excesso de modéstia, não reivindicamos, desde que fomos destronados por Copérnico[6]
 
 
Retomando a questão inicial envolvendo o aparecimento de alguns enunciados no discurso de divulgação científica, que parecem contradizer os sentidos deterministas do discurso da ciência, proponho agora que esses enunciados materializam, na divulgação científica, o discurso da ciência determinado pelo aparecimento da mecânica quântica e pelos teoremas da indefinibilidade e da incompletude. O enunciado da Revista Superinteressante, da edição 107, de agosto de 1996:
 
Você acha que o gato desta página está saltando do telhado de cá para o telhado de lá? Pura impressão. É o mesmo gato em dois telhados ao mesmo tempo. Impossível? Não para a Física Quântica. Ela acaba de provar que um átomo é capaz de estar em dois lugares na mesma fração de segundo.
 
 
materializa no discurso de divulgação, sentidos sobre ciência, em que o pré-construído da mecânica quântica é determinante. A referência ao gato remete ao experimento de raciocínio, conhecido pelo nome de “Gato de Schrödinger”, proposto pelo austríaco Erwin Schrödinger. O experimento busca ilustrar o caráter de incerteza que acompanha


[6] HAWKING, 2005: XII e XIII.