Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

(epistemologicamente regionais) historicamente apontáveis para cada época dada – em suma-, as ideologias teóricas e as diferentes formas de “filosofia espontânea” que as acompanham – não estão separadas da história (da luta de classes). (PÊCHEUX, 1988:190-191).
 
 
Uma questão que surge, então, envolve a compreensão das condições de reprodução da força de trabalho e das ideologias, que na conjuntura delineada nessa pesquisa, sustentam a produção do conhecimento científico e sua divulgação pela mídia. Algumas cifras apontam o lugar privilegiado, por exemplo, da física quântica na conjuntura econômica da atualidade, já que os investimentos nessa área chegam a 6 bilhões de dólares em tecnologia de imagem para a medicina, 10 milhões de dólares em medicina nuclear, 30 milhões em armas nucleares, 40 milhões em energia nuclear. Assim, se levamos em consideração que, numa sociedade capitalista como a nossa, o poder para “poder dizer” e “poder fazer” é sustentado por condições de produção em que o capital tem preponderância, parece não faltar para ciência quântica o que Pêcheux (1975: 192) denomina “pontos de apoio” para uma transformação do campo, pontos de apoio onde as “coisas andam”. As idéias quânticas, assim, têm uma materialidade específica, que envolve sua inscrição em um processo histórico determinado fortemente por uma produção econômica, em que 30% da economia bruta do mundo é devido ao conhecimento de como as partículas subatômicas funcionam.
A divulgação científica feita pela mídia pode ser considerada um dos “pontos de apoio” da ciência quântica e esse ponto de apoio se dá sob a forma de uma evidência pela qual ficam apagadas as “relações de desigualdade-subordinação que determinam os ‘interesses’ teóricos em luta numa conjuntura dada” (PECHEUX, 1975: 190). São palavras do físico Leon Lederman, coordenador do Laboratório Nacional de Aceleração de Partículas de Illinois, que trabalha produzindo conhecimento e tecnologia quânticos:
 
[...] Parece uma arrogância cósmica acreditarmos que podemos prosseguir com uma declaração de que nada existe a menos que o observemos. No coração da física quântica está a incerteza. Não apenas o “Princípio da Incerteza”, mas todo o conceito de incerteza. Ele parece cativante se espalha por toda a ciência. Mas nós sabemos que a mecânica quântica funciona, olhe a sua volta. Só não sabemos por que funciona. (LEDERMAN, 2001. Episódio “Tudo sobre a Incerteza”, Programa Discovery na Escola) (Grifo nosso)