Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

de determinar qual descrição é “verdadeira”[...](Scientific American Brasil, dezembro de 2005: 57). (Grifo nosso)
 
[...] Qualquer teoria física é sempre provisória, no sentido de que não passa de hipótese: não pode ser comprovada jamais. Não importa quantas vezes os resultados de experiências concordem com uma teoria, não se pode ter certeza de que, da próxima vez, o resultado não vai contradizê-la.[...] (HAWKING, 1988: 23) (Grifos nossos)
 
 
A conjuntura delineada nesse trabalho, portanto, me permite considerar um funcionamento para o discurso da ciência, em que convergem FD resultantes desse complexo demarcação/cumulação/transformação. Essas FD articulam-se tanto por uma lógica 1 (determinista), uma lógica 2 (relativista), uma matemática 1 (determinista), uma matemática 2 (matemática pós-Gödel) e, finalmente pela FD da mecânica quântica, que se constitui pelos sentidos da incerteza, da probabilidade e da subjetividade. Essa constituição do discurso da ciência, por sua vez, vai produzir encadeamentos, articulações e delimitações no e com o discurso de divulgação regulando, em certa medida, neste último, “o que o sujeito divulgador pode e deve dizer” sobre ciência. Contudo, do mesmo modo que no discurso científico, no discurso de divulgação também se inscrevem sentidos de uma ciência clássica, determinista. Assim, não estamos tratando, aqui, de um funcionamento discursivo homogêneo, nem para o discurso da ciência nem para o discurso de divulgação.
 
 
ALGUNS ENCAMINHAMENTOS
 
Pêcheux (1975) afirma que as condições de aparição do que ele denomina ciências da natureza estão ligadas às novas formas de organização do processo de trabalho impostas pela instauração do modo de produção capitalista, assim como pelas novas condições da reprodução da força de trabalho correspondente a essas formas de organização:
 
essas condições de aparição estão ligadas, por isso mesmo, às ideologias práticas do modo de produção capitalista e à relação que essas ideologias mantêm com as dos modos de produção anteriores, e, através delas, com as ciências já “começadas” (essencialmente, o continente matemático). Em outras palavras, as “idéias científicas”, as concepções gerais e particulares