Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

necessidade prática de prever a posição e a velocidade futuras de uma partícula a partir dos postulados feitos por Max Planck, que, em 1900, afirmou que a luz sempre vem em pequenos pacotes chamados “quanta”. Segundo Heisenberg (apud Hawking, 1988), os postulados de Planck implicavam que quanto mais exatamente se tentasse medir a posição de uma partícula, menos exatamente se conseguiria medir sua velocidade e vice-e-versa. O Princípio da Incerteza, que formaliza a restrição à exatidão com que se podem efetuar medidas simultâneas, assinala o fim do sonho de uma teoria da ciência que propunha um modelo de universo completamente determinístico:
 
(...) não se podem por hipótese prever eventos futuros com precisão, uma vez que também não é possível medir precisamente o estado presente do universo [...] a mecânica quântica, portanto, introduz um inevitável elemento de imprevisibilidade ou casualidade na ciência (HAWKING,1988: 65). 
 
 
Além disso, a mecânica quântica mostra que, neste processo de medição, há ainda uma indeterminação no que diz respeito às características do elemento avaliado, que pode tanto se comportar como uma partícula quanto como uma onda (de luz). O que determinará se ele é uma partícula ou uma onda é a observação. A mecânica quântica, desse modo, situa-se, em certa medida, numa relação contraditória com funcionamento do discurso científico, que se constrói pela objetividade e neutralidade ao excluir o sujeito do processo.
Mesmo que, para muitos, o “observador” não seja um sujeito autoconsciente, mas sim “um dispositivo físico que faz a medida”, os sentidos aí instaurados sobre a subjetividade surgem colocando em questão a posição de neutralidade do sujeito da ciência estabelecida, de onde agora emergem efeitos de uma outra posição do sujeito da ciência: aquela constituída uma noção de subjetividade que rompe com a neutralidade do sujeito do discurso científico. É assim que Niels Bohr, em 1955, falando da física quântica que ajudou a criar, mostra essa outra ciência com seu outro sujeito que, contraditoriamente, constitui-se tanto pelos sentidos mecanicistas quanto pelos quânticos. Ele diz, em seu artigo “Física Atômica e Conhecimento Humano”:
 
Em vista da concepção mecanicista da natureza no pensamento filosófico, é compreensível que às vezes se tenha visto na noção de complementaridade uma referência ao observador subjetivo, incompatível com a objetividade da descrição científica [...]