Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

a caracterização dos objetos quânticos: uma partícula/onda só se torna partícula ou onda a partir da ação do observador.
O experimento de Schrödinger busca elucidar ainda que o gato poderia, em certo momento, estar vivo e morto ao mesmo tempo, assim como uma partícula e uma onda que seriam onda/partícula ao mesmo tempo. Observemos outro enunciado na mesma matéria da revista Superinteressante, da edição 107, de agosto de 1996:
 
O problema é que para as regras quânticas nenhuma das duas possibilidades poderia ser excluída. Enquanto a caixa estivesse fechada e ninguém olhasse lá dentro, o gato permaneceria num estado indefinido, morto e vivo a um só tempo. Foi uma situação como essa que os físicos americanos David Wineland e Chris Monroe criaram agora no laboratório. Não é a mesma coisa, claro, pois eles observaram um simples átomo balançando de um lado para outro numa gaiola magnética. (Superinteressante, agosto, 1996)
 
 
Nesses enunciados da Revista Superinteressante outros sentidos do discurso científico (pré-quântico) são questionados pela física quântica, agora envolvendo as teorias da lógica que funcionam nos termos de Pêcheux (1975: 71) “como uma atividade de triagem entre enunciados verdadeiros e enunciados falsos”. De fato, a lógica clássica possibilitou o desenvolvimento tanto da física determinista/einsteineana quanto da física quântica. Contudo, os paradoxos que emergiram da mecânica quântica colocam em “colapso” a própria lógica assentada em sentidos disjuntivos ou..., ou.... já que, voltando ao gato, haveria um estado indefinido em que o gato estaria vivo (partícula) e ao mesmo tempo morto (onda), mas destaque-se: isso ainda não seria a realidade, seria apenas probabilidade, pura matemática, a realidade: o gato vivo ou morto, se constituiria no momento da observação.
Outros materiais de divulgação de ciência, agora, um texto do cientista e divulgador de ciência Marcelo Gleiser produzido para a revista Época, uma revista não especializada em divulgar ciência, se mostra também revelador ao materializar o pré-construído que nega os pressupostos mecanicistas e deterministas do discurso da ciência. Os enunciados “Existe harmonia no mundo? e “Qual o papel da imperfeição?” (GLEISER, 2006: 88) produzem um efeito de sentido em que a imperfeição é aceita como tendo já um espaço, uma significação no discurso científico e conseqüentemente no de divulgação. A dúvida, neste caso, refere-se aos sentidos da harmonia.