Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

indesejável, tendo sido tentadas diferentes formulações para contornar esse problema, quero destacar aqui, que os pressupostos quânticos foram decisivos para a materialização de certas contradições no discurso da ciência de uma forma até agora incontornável. E os seus efeitos podem ser observados, já que o sujeito que antes se constituía no discurso da ciência, exclusivamente, “presente pela sua ausência” (PÊCHEUX, 1975: 71-98) passa a ser objeto de debate, agora, por sua possível “participação” no processo de produção de conhecimento. E essa discussão decorre da assunção diria espetacular da mecânica quântica, que garante para o sujeito essa posição necessária e até então negada para a construção da realidade.
Quero tratar agora, de maneira bastante sucinta, de outros fundamentos que também constituem o campo das ciências exatas: o Teorema da Indefinibilidade, de Tarski e o Teorema da Incompletude, de Gödel. Esses fundamentos compõem, juntamente com as noções da mecânica quântica, as relações de sentidos que instituem o discurso da ciência contemporaneamente. O Teorema da Indefinibilidade, do polonês Albert Tarski, proposto em 1930, afirma que o conceito da “verdade” para as sentenças de uma linguagem dada não pode ser consistentemente definido dentro dessa linguagem, de modo que para se chegar à verdade que sustenta uma sentença é necessário, afim de evitar paradoxos semânticos, distinguir a linguagem de que se está falando (linguagem objeto) da linguagem de que se está usando (metalinguagem).
Uma implicação disso envolve a necessidade de uma interpretação da linguagem utilizada, ou seja, deve-se aceitar, como propõe Santos (2003)[4], que uma mesma cadeia de sons ou de sinais escritos pode pertencer a linguagens diferentes, ser em ambas uma frase, mas com significados diferentes de tal modo que, numa, ela é verdadeira, enquanto na outra é falsa, ou seja, não diremos que uma frase é verdadeira, mas sim que ela é verdadeira numa certa linguagem. Assim, “Tarski conclui que o que devemos procurar definir não é um predicado geral de verdade, mas uma série de predicados distintos” (SANTOS, 2003: 24). Davidson, ao escrever sobre a proposta de Tarski, afirma: “A menos que estejamos preparados para dizer que não existe nenhum conceito único de verdade (mesmo enquanto aplicado a frases), mas apenas um número de conceitos diferentes para os quais usamos a mesma palavra, temos de concluir que há algo mais a respeito do conceito de verdade” (DAVISON apudSANTOS 2003: 24).