Revista Rua


O discurso da ciência na contemporaneidade: "Nada existe a menos que observemos"
(The discourse of science in the contemporaneity: "Nothing exists unless we observe it.")

Marci Fileti Martins

De fato, a busca pela harmonia e, conseqüentemente, pela beleza e simetria constituem o discurso da ciência desde Pitágoras, passando por Kepler chegando até a atualidade. Segundo Oliveira (2006)[7], enquanto para Pitágoras e Kepler a harmonia era constitutiva das esferas celeste ou do cosmos, o que demonstraria a perfeição desses objetos, na atualidade, a harmonia pode ser entendida como a busca por leis físicas fundamentais que, em princípio, descreveriam todos os fenômenos da natureza. Contudo, contemporaneamente, essa procura por leis fundamentais esbarra em contradições criadas dentro próprio discurso da ciência, tanto pela mecânica quântica quanto pela “incompletude” da matemática e “indefinibilidade da verdade” na lógica. O discurso de divulgação materializa essa contradição ao relacionar os sentidos de “imperfeição” e de “desequilíbrio” com os de “equilíbrio” e “imutabilidade” quando no mesmo texto da revista Época, Marcelo Gleiser afirma:
 
Vou escrever sobre a importância da imperfeição. Todas as coisas fundamentais que existem dependem de um desequilíbrio. Quando o sistema está equilibrado não se transforma [...] não há criação, nada acontece”. (Época, 2006: 88).
 
 
De tal modo, a relação interdiscursiva entre o discurso da ciência e o da divulgação, que particulariza esse último, pode aqui ser compreendida como resultado da relação que articula e delimita o próprio discurso da ciência. Dito de outro modo, o discurso da ciência na atualidade é resultado de “demarcações ou rupturas intra-ideológicas” definidas como “aperfeiçoamento, correções, críticas, refutações, negações de certas ideologias ou filosofias” juntamente com um “processo de cumulação” (PÊCHEUX e FICHANT, 1977), em que essas demarcações estariam como que maturando para, então, finalmente surgirem como sentidos determinantes dentro do discurso da ciência. 
Os enunciados, agora, da revista Scientific American Brasil e do livro de divulgação Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking, respectivamente, materializam essa contradição no discurso científico apontando para um ponto sem regresso a partir do qual a ciência contemporânea estaria começando:
 
[...] Apesar de perspectivas tão distintas, ambas as abordagens descreveriam tudo que existe no Universo. Não haveria maneira