Revista Rua


Arte de viver de narradoras de outro Javé chamado Guriú
Art of living of other narrators of Yahweh called Guriú

Glória Freitas

diferenças; já que era forasteira (expressão muito comum e que é dada aos que são de fora na zona norte do Ceará), com uma expressão de que me via bela e que essa imagem estrangeira lhe parecia agradável. Fiquei sendo, então, alguém agradável e que quer saber sobre o brincar infantil. Uma estranha que lhe pareceu aprazível.
Eu entoava uma palavra, o brincar, que remetia às encantadoras lembranças de sua meninice. Eu entendia como brincar, a cultura lúdica infantil. Ela se lembrava dos dramas. Decididamente não falávamos a mesma língua. E mesmo no desencontro de nossos sotaques, uma possibilidade de entendimento foi estabelecida. Desejamos nos entender ainda que fossemos habitantes de línguas tão distintas.
Derrida comenta o discurso de defesa, contido na Apologia de Sócrates. Nele Sócrates declara-se estrangeiro ao discurso de tribunal, desconhece a língua dos tribunais, desprovido da técnica e atrapalhado ao falar a língua outra. Sócrates é então visto como um estrangeiro:
 
O estrangeiro é, antes de tudo, estranho à língua do direito na qual está formulado o dever de hospitalidade, o direito ao asilo, seus limites, suas normas, sua polícia etc. Ele deve pedir a hospitalidade, numa língua que, por definição, não é a sua, aquela imposta pelo dono da casa, o hospedeiro, o rei, o senhor, o poder, a nação, o estado, o pai, etc. Estes lhe impõem a tradução em sua própria língua, e esta é a primeira violência... (2003, p. 15).
 
Descrição: Gloria Freitas (37)
Eis o beco e o sorriso de Otília