Revista Rua


Arte de viver de narradoras de outro Javé chamado Guriú
Art of living of other narrators of Yahweh called Guriú

Glória Freitas

E em muito pouco tempo sou convidada a entrar e já estou na sua cozinha, e isso se abriu como possibilidade depois que essa voz ordenou: “Entre para dentro de casa!” O que se sucede a isso é o anunciar de comédias cantadas e faladas que vão aparecendo. Sem gravador na ocasião, devoro os dramas e os reverto em letras. Vou copiando as letras rapidamente no caderno, maravilhada. Sentada no tucum, acabo de descobrir algo de muita importância na pesquisa. Descubro as brincadeiras de Dona Otília.
O que é este gesto imediato de grande acolhida? Que da porta da rua ao tucum da cozinha são poucos passos? Isso seria a hospitalidade absoluta? Derrida defende a noção de que
 
[...] a hospitalidade absoluta exige que eu abra minha casa e não apenas ofereça ao estrangeiro (provido de um nome de família, de um estatuto social de estrangeiro, etc.), mas ao outro absoluto, desconhecido, anônimo, que lhe ceda lugar, que eu o deixe vir, que o deixe chegar, e ter um lugar que ofereço a ele, sem exigir dele uma reciprocidade (a entrada num pacto), nem mesmo seu nome (2003, p. 25).
 
Descrição: Gloria Freitas (11)
Foto tirada, sentada no tucum, de Otília e sua doce cozinha
 
 
Imediatamente ela anuncia o seu tesouro guardado, me faz entrar na sua casa e promete que me revelará sobre comédias de dramas que animavam ainda suas