Revista Rua


Inovação nas práticas de promoção da saúde por meio da arte da palhaçaria: a dialogia do riso registrada em vídeo-documentários nas experiências de campo
Innovation on health promotion practices trough the art of the clown: dialogy of laugher recorded in video documentaries in field work

Marcus Vinicius Campos Matraca, Tania C. de Araújo-Jorge

Introdução
Neste artigo descrevemos e refletimos sobre o trabalho de campo de um cientista social no papel de Palhaço Matraca, em diálogos sobre temas de saúde e vida diretamente com população de rua, registrado mediante a construção de dois vídeos-documentários: “Matraca e o povo invisível” e “Na Pista”. Ao nosso conhecimento, esta é a primeira experiência de pesquisa participante por meio da arte da palhaçaria em ações de promoção da saúde fora de ambiente hospitalar, diretamente em situações de rua.
             O personagem “Palhaço Matraca” é fruto do diálogo de um pesquisador que passeia no campo da ciência e da arte em suas investigações. Matraca é um brincante por natureza, e desde 2003 está “na pista” com seu saxofone espalhando encanto para o grande picadeiro da vida (Figura 1). Boa parte da sua formação é informal. Aprendeu matemática quando estagiou na bilheteria do circo, diplomacia com cada povo que encontra na pista do mundo, ciência quando resolve planejar alguma engenhoca para o maior espetáculo da terra. Informações, ele busca as necessárias para apresentar com generosidade sua arte que, geralmente, denuncia com humor as diferenças e desigualdades do local visitado. O palhaço pode ser bobo, mas não é tolo.
             Adotamos como base conceitual a Dialogia do Riso (MATRACA et al., 2009), baseado na prática da educação popular em saúde desenvolvida com alegria. Como afirmamos neste trabalho, o riso ajuda a contrapor a idéia de saúde como simples ausência de doença ou um completo bem-estar, tese defendida inicialmente como conceito universal da saúde pela OMS desde 1946.
            Assumimos o conceito de Promoção da Saúde firmado em 1986, na Carta de Ottawa, em que saúde é entendida como um recurso para a vida e não como um objetivo de viver. Adotamos a definição de Lefèvre (2004) para Promoção da Saúde, compreendendo-a como uma ferramenta para a percepção ampliada, integrada, complexa e inter-setorial da saúde e da vida, articulando ambiente, educação, recursos humanos, estilo e qualidade de vida. Promoção da Saúde é hoje um eixo estruturante do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, com política própria formulada e implementada em todo o país.  Os preceitos do SUS são universalidade, equidade, integralidade, descentralização –municipalização e regionalização – hierarquização e participação popular. A concepção de saúde como direito social encontra-se na Constituição Federal de 1988, Art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de