Revista Rua


Inovação nas práticas de promoção da saúde por meio da arte da palhaçaria: a dialogia do riso registrada em vídeo-documentários nas experiências de campo
Innovation on health promotion practices trough the art of the clown: dialogy of laugher recorded in video documentaries in field work

Marcus Vinicius Campos Matraca, Tania C. de Araújo-Jorge

dependentes químicos, que moram ao redor do terminal rodoviário da Asa Sul. O primeiro contato foi realizado no período da manhã, abrindo caminho para a filmagem.
No dia 20 de janeiro foi feita a captação na rampa do Senado brasileiro, com a intervenção da Polícia Federal alegando que qualquer tipo de filmagem só seria possível mediante a autorização prévia. Como a função do Palhaço é subverter a ordem, Matraca conseguiu ler alguns artigos da Constituição Brasileira e tocar o Hino Nacional com seu saxofone, concluindo a primeira parte da captação.
         A segunda parte da filmagem foi realizada no dia 21 de janeiro, com os moradores do entorno da rodoviária do Plano Piloto, em sua maioria, menores de idade que também são dependentes químicos. A fim de preservar suas identidades, as imagens foram apresentadas com deformidade no foco. Apesar do forte cheiro de solvente, o trabalho foi realizado com tranquilidade pois, segundo Freire (1987) a relação entre a autoridade e a liberdade tem um caráter distinto da natureza como ela se apresenta ao educador de rua, e a figura do palhaço contradiz a autoridade vigente. O encontro foi finalizado com uma Jam Session entre o Palhaço Saxofonista e a Orquestra de Solvente, formada pelos jovens dependentes químicos, moradores daquele território. A pedido dos integrantes da orquestra e em conjunto com a mesma, Matraca executa o Hino Internacional do Brasil (Hino Nacional) em ritmo afro, finalizando com o tema Escorregando no bagaço da Laranja, que se tornaria o hit do filme.
No documentário fica claro o desrespeito ao direito à infância, outro grupo de outsiders em situação de grande dificuldade pessoal e social, expostas a violência física e sexual, ao uso de drogas lícitas e ilícitas, à exploração do trabalho infantil e a doenças. Desrespeitando o Art. 7º do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990): “a criança e o adolescente têm direito à proteção da vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
A rua novamente é o cenário para registrar e denunciar o descaso sobre um fenômeno social que afeta crianças e adolescentes dependentes químicos, que moram a poucos metros do Congresso Nacional, realidade social que existe em todas as grandes cidades. O mesmo Congresso que ratificou a Declaração dos Direitos da Criança em 1959 onde, no PRINCÍPIO 1º: