Revista Rua


Inovação nas práticas de promoção da saúde por meio da arte da palhaçaria: a dialogia do riso registrada em vídeo-documentários nas experiências de campo
Innovation on health promotion practices trough the art of the clown: dialogy of laugher recorded in video documentaries in field work

Marcus Vinicius Campos Matraca, Tania C. de Araújo-Jorge

espaço e contexto utilizado pelos profissionais do sexo. Quando o Palhaço Matraca questiona Luciana (A Rainha do Sexo) sobre o trabalho noturno, ela responde: “queria dizer que é muito difícil se prevenir na noite, infelizmente na noite rola de tudo e infelizmente AIDS mata. Eu acredito que o que gera as DST é a violência, não tenham medo de fazer amor, mas faça com segurança, com camisinha”.
Após esta fase, são encaminhados à unidade de saúde, para efetivamente terem um acompanhamento mais assíduo. Márcia Santana, coordenadora do programa municipal de DST/AIDS, alega que o sucesso do projeto está fundamentado na alegria e na solidariedade.
No Rio de Janeiro, as captações de imagens foram realizadas nos bairros da Glória e Lapa. Segundo Junior, a definição mais corrente e mais comum de travesti é a daquele ser nascido homem e que se veste e se comporta como mulher, assumindo-se feminino; e um transgênero é um ser “entre gêneros”, seja em questões de identidade, comportamento ou mesmo de uma genitália ao mesmo tempo masculina e feminina. A diferença básica é enquanto a segunda necessita da cirurgia de transgenitalização para se sentir plena, a primeira não necessita e convive de forma pacífica com o órgão genital de origem. Aos olhos de uma sociedade com regras e preconceitos, segundo Goffman (1988), as travestis são percebidas:“como incapazes de usar as oportunidades disponíveis para o progresso nos caminhos aprovados pela sociedade; mostram um desrespeito evidente por seus superiores; falta-lhes moralidade; elas representam defeitos nos esquemas motivacionais da sociedade” (p.155).
Entre as camadas populares, sobretudo nos territórios periféricos da cidade, a forma como o indivíduo vivencia o seu afeto e desejo sexual, determinará como será tratado no cenário social. Essa foi a conclusão da pesquisa de Caetano (2007)intitulada “Ousadia, desejo e transgressão: as nuances da juventude gay, lésbica, bissexual e transgênero – GLB”. Sobre esse tema, além de distribuir preservativos, Matraca questiona uma travesti se tem muita violência na rua, e ela responde: “a violência vem dos clientes, a gente sai, não sabe quem é e na hora vira seu inimigo”. A mesma violência levou o Grupo Dignidade (Cavazotti, 2009) a denunciar a morte de 30 travestis e transexuais na cidade de Curitiba e Região Metropolitana. Segundo esse o grupo, nenhum caso foi resolvido e ninguém foi preso, desrespeitando assim o art. 5° da Constituição Federativa do Brasil (1988) onde, “todos os brasileiros são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.