Revista Rua


Inovação nas práticas de promoção da saúde por meio da arte da palhaçaria: a dialogia do riso registrada em vídeo-documentários nas experiências de campo
Innovation on health promotion practices trough the art of the clown: dialogy of laugher recorded in video documentaries in field work

Marcus Vinicius Campos Matraca, Tania C. de Araújo-Jorge

se alimenta do olhar de outro homem” (p. 216). Estamos falando de um olhar compartilhado entre as pessoas e partir de uma relação horizontal onde: “Sentimo-nos de fato iluminados – alimentados – na experiência intersubjetiva do olhar desembaraçado: ver e sentir-se como quem é visto. O olhar dos outros homens, desamarrado de posições classistas, é força que nos sustenta.” (p. 217).
A Constituição Federal do Brasil, no art. 196 (1988) diz que a “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.Este direitonão condiz com a realidade dos atores sociais envolvidos no documentário. Em suas conversas, o Palhaço Matraca questiona um morador de rua se ele era bem atendido no Centro de Saúde. O Sr. Montes das Oliveiras, como se apresentou para o palhaço responde: “No Souza Aguiar demora sempre por que somos de rua, a gente da rua não tem valor nenhum. Pergunta logo, é da rua? Aí demora a ser atendido. Nós somos ser humano comum, tem que dar o valor comum, do pobre que dorme no chão como o rico”. Um morador que freqüenta outro hospital afirma que: “a última vez que fui, demorei a ser atendido, fiquei até de madrugada... entrei com a dor e saí com a dor”. Este tipo de situação, segundo Dr. Rodrigo Maia, apresenta claramente o despreparo do profissional da saúde em acolher qualquer tipo de usuário.
Negar acesso ao sistema de saúde é colaborar para a expansão de epidemias como a tuberculose, cuja ocorrência é 60 vezes maior entre os moradores de rua do que na população em geral (ADORNO e VARANDA, 2004). Segundo Pablo Aníbal, ex-morador de rua na Argentina, a pneumonia e a tuberculose são comuns entre a população em situação de rua de Buenos Aires, onde o etnógrafo pode vivenciar seu trabalho. Foi apenas uma intervenção para observar um número expressivo de moradores de rua, registrado em fotografia anexada ao documentário.
            Apesar do estado caótico, Santos e Lopes (1997) defendem a idéia de uma educação que parta da conflitualidade do conhecimento, ou seja, um processo educativo, onde o conflito sirva, antes de tudo, para vulnerabilizar o sistema hegemônico. O projeto educativo emancipatório, significa produzir imagens desestabilizadoras a partir de um passado de segregação concebido não como fatalidade, mas como produto da iniciativa humana.
  Como exemplo, temos algumas tecnologias sociais voltadas para a população de rua, o projeto Ocas no Brasil e Hecho na Argentina que estão dando certo. O