Revista Rua


Inovação nas práticas de promoção da saúde por meio da arte da palhaçaria: a dialogia do riso registrada em vídeo-documentários nas experiências de campo
Innovation on health promotion practices trough the art of the clown: dialogy of laugher recorded in video documentaries in field work

Marcus Vinicius Campos Matraca, Tania C. de Araújo-Jorge

do sexo, dos moradores de rua, dos ambulantes, do povo invisível. Becker (2008) denomina estes grupos como os outsiders:
todos os grupos sociais fazem regras e tentam, em certos momentos e em algumas circunstâncias, impô-las. Regras sociais definem situações e tipos de comportamento a elas apropriadas, especificamente algumas ações como “certas” e proibindo outras como “erradas”. Quando a regra é imposta, a pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser vista de acordo com as regras estipuladas pelo grupo. Essa pessoa é encarada como um outsider (p. 15).
 
            O Palhaço pode ser considerado parte do povo invisível,pois não tem nenhum vínculo com qualquer aparência da realidade instituída, e acaba sendo um desvio dentro do sistema social. Além de ser uma figura cômica, no imaginário coletivo o palhaço pode ser o bêbado, o morador de rua, o perdedor, a profissional do sexo e nesta lógica a personagem adere facilmente aos grupos sociais estigmatizados. Uma construção coletiva que se traduz nos versos do trovador de rua Emicida (2009): “Na pista, pela vitória, pelo triunfo, pela conquista, se é pela glória, uso meu trunfo, a rua é nóiz, nóiz, nóiz”.
Na segunda parte do documentário, o foco aponta a população de rua e profissionais do sexo. A abordagem das pessoas pelo Palhaço Matraca se dá através da música, quando ele, brincando, tocando seu sax tenor, conversa e distribui preservativos e flores para os amigos e amigas. A marginalidade do palhaço lhe permite iniciar esse diálogo sem qualquer dificuldade.
Apesar do cenário maravilhoso que a cidade locada oferece, nos deparamos com um abismo social entre a minoria que habita a “casa grande” e a maioria que vive na “senzala”, dentro de um certa “normose” social. Segundo Weil (2003), normose:
é um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria de uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte. Em outras palavras, é algo patogênico e letal, executado sem que seus autores e atores tenham consciência de sua patologia(p. 22).
 
Muitos de nós não concordamos com a condição social dos moradores de rua, mas estamos acostumamos a ver e viver neste cenário com calçadas e marquises ocupadas por seres humanos, gerando assim certo grau de normose e conivência ao sistema de exclusão estabelecido, banalizando nossa potencial indignação frente a tal injustiça e exclusão social.
Apesar de o desemprego ser um fator recorrente entre os moradores de rua, não podemos isolar este fenômeno social das demais vulnerabilidades que o processo de