Revista Rua


Inovação nas práticas de promoção da saúde por meio da arte da palhaçaria: a dialogia do riso registrada em vídeo-documentários nas experiências de campo
Innovation on health promotion practices trough the art of the clown: dialogy of laugher recorded in video documentaries in field work

Marcus Vinicius Campos Matraca, Tania C. de Araújo-Jorge

participantes, optamos por obter esse consentimento diretamente nos registros orais no processo de filmagem, que traduziu os diálogos acordados. Sabemos que nem tudo pode ser descrito pelas imagens, e na construção de um vídeo documentário vivemos um processo onde o roteiro não corre em trilhos previstos, podendo levar o investigador a lugares não imaginados. A cada saída a campo do palhaço Matraca, o cinegrafista registrava a rua, a população de rua, as profissionais do sexo e o diálogo com o palhaço, procurando observar seu cotidiano e perguntar-lhes sobre sua saúde e seu contato com os serviços de saúde.
A preocupação metodológica em apresentar o cenário escolhido de maneira fiel à realidade observada, nos fez refletir sobre os “Argonautas do Pacifico Ocidental” (MALINOWSKI, 1976), trabalho que muda a história da antropologia quando propõe um novo método para o trabalho de campo no qual o etnógrafo participa diretamente do cotidiano social observado. Nesta obra, o autor descreve como ocorre o kula,sistema circular de trocas, místico e sem noção de posse permanente, que influencia a vida dos nativos das Ilhas Trobriand, localizado nos arquipélagos da Nova Guiné. O etnógrafo publica em 1922 sua aventura com 75 imagens, apresentando a fotografia como um ferramental necessário para registrar o trabalho de campo.
Como a fotografia, o vídeo documentário transita facilmente no campo da antropologia identificado em duas tendências: o rigor etnográfico e a exploração do exótico. Segundo Freire (2005), o primeiro filme classificado como antropológico foi realizado na primavera de 1895, por Félix-Louis Regnault, utilizando uma câmera cronofotográfica de E.J. Masrey, onde se registrou imagens de uma mulher africana Wolof confeccionando objetos em argila, apresentado na Exposition Ethnographique de l’Afrique Occidentale em Paris. Como fatos históricos reservam diferentes perspectivas daqueles que os reconstituem, alguns atribuem o privilégio do primeiro registro visual antropológico para T. A. Edison pelo documentário Indian war council e Sioux ghost dance. Entretanto, os registros foram realizados em 1894 no Studio Black Maria no subúrbio de Nova York, com uma pobre reconstituição cenográfica do habitat dos índios Sioux.
A utilização do instrumental da filmagem na pesquisa requer uma reflexão dialógica com os sujeitos que estão sendo investigados. Para Serafim (2007) é muito complexo apreender e devolver ao espectador os sentidos e estados mentais dos atores sociais fotografados ou filmados.