Revista Rua


O discurso no Twitter, efeitos de extermínio em rede
The discourse on Twitter, extermination effects in net

Vivian Lemes Moreira, Lucília Maria Sousa Romão

como ato a ser colocado em prática já que a formulação “mate um nordestino afogado” se repete. Percebemos um efeito metonímico aqui que faz escorregar os efeitos de extermínio de nordestinos como um favor a ser feito para “Sp” e, depois, para todo o “nosso país”; assim, nesses dizeres, o Estado considerado rico e desenvolvido, ao qual se atribui o par contrário de nordeste, é modelo para todo o país, o que exclui a possibilidade de convivência com o diferente.
Nesses recortes, matar outro ser humano não é dito crime como é regularizado pelo discurso dominante da lei, mas como um “favor” a ser feito em prol de um estado, de um país ou do capricho de um grupo de sujeitos-navegadores, o que marcamos como um funcionamento discursivo cínico. Igualmente assim consideramos o dizer endereçado aos próprios “queridos nordestinos (...) morram”, já que a marca “queridos” é geralmente mobilizada em dizeres de reconhecimento afetivo e aqui funciona discursivamente de modo a colorir o cinismo de convocar o outro à própria morte. Morte que continua a ser replicada em outras twittadas. Anotamos que, nestes e nos recortes subseqüentes, o sujeito-internauta tem a ilusão de tudo poder postar, de estar protegido pelo anonimato e por uma espécie de blindagem do digital. Tais elementos sustentam uma relação imaginária de liberdade e de poder dizer qualquer coisa sem as conseqüências pela palavra.
 
 
 
 


[15] http://twitter.com/ . Data: 31/10/10
[16] http://twitter.com/ . Data: 31/10/10