Revista Rua


O discurso no Twitter, efeitos de extermínio em rede
The discourse on Twitter, extermination effects in net

Vivian Lemes Moreira, Lucília Maria Sousa Romão

conceito de memória corresponde às zonas do já-lá que são recortadas pelos sujeitos no momento da constituição do discurso. (FERRAREZI, 2010, p. 33).
 
A memória discursiva soma-se ao trabalho da ideologia que, para a AD, é uma condição para a constituição dos sujeitos e dos sentidos, tendo em vista que o sujeito está sempre sendo interpelado por ela, fisgado a escolher certas palavras e não outras. Ela é a responsável pela produção de evidências que colocam o sujeito em relação imaginária com as suas próprias condições históricas de existência, fazendo parecer que não existam outros modos de dizer algo. De acordo com Orlandi (1999, p. 15), “assim considerada, a ideologia não é ocultação, mas função da relação necessária entre linguagem e mundo. Linguagem e mundo se refletem no sentido da refração, do efeito imaginário de um sobre o outro”. Ela funciona como um mecanismo naturalizador de sentidos para o sujeito, assim, ele ao enunciar uma palavra, certos sentidos são evidenciados em detrimento de outros considerados indesejáveis. Essa produção de evidências determina o que “pode” e “deve” ser dito, a partir de uma posição numa dada conjuntura (PÊCHEUX, 1997); ocorre que uma formação discursiva é também heterogênea, enfeixada por fragmentos discursivos diversos, que vão se (re)montando, “na medida em que o dispositivo da FD está em relação paradoxal com seu ‘exterior’: uma FD não é um espaço estrutural fechado, pois é constitutivamente ‘invadida’ por elementos que vêm de outro lugar” (PÊCHEUX, op.cit., p.314). Isso nos permite inferir que, dentro dessa perspectiva, a concepção de que a heterogeneidade comparece como constitutiva do discurso, do sujeito e do sentido, já que o jogo de dizer sempre conta com o imprevisível.
De acordo com a teoria discursiva, consideramos que o sujeito, longe de ser homogeneo, está sempre enunciando a partir de outros dizeres, e é atravessado por sentidos emprestados de diferentes formações discursivas e instala-se “tensa e permanentemente em palavras que não são suas, posto que já ditas por outrem” (MOREIRA; ROMÃO, 2008, p.4). Authier-Revuz (1992) classifica essa condição de heterogeneidade em dois tipos, quais sejam, a constitutiva e a mostrada; a primeira é caracterizada quando o discurso constitui-se na/pela presença de outros discursos, porém de uma forma implícita, ou seja, quando não é marcada a voz do outro; dessa forma, ela sustenta-se na superfície da memória e do interdiscurso. A heterogeneidade de forma mostrada é caracterizada quando se faz referência à presença de um outro no discurso; e podem existir duas formas desse tipo de heterogeneidade mostrada: a forma marcada e não-marcada. Ainda segundo a autora, a forma marcada pode ser realizada através de citações de forma direta no texto, como exemplo, o emprego de aspas,