Revista Rua


O discurso no Twitter, efeitos de extermínio em rede
The discourse on Twitter, extermination effects in net

Vivian Lemes Moreira, Lucília Maria Sousa Romão

negrito, itálico na escrita, e também através das marcas de conotação autonímica. As formas de heterogeneidade mostrada não-marcada caracterizam-se pela maneira com a qual o enunciador faz alusão a um co-enunciador, diluindo a fala do outro na sua fala, emendando as fronteiras entre a sua e a outra voz.
Tendo em vista os conceitos apresentados até aqui, avançaremos agora na direção de estabelecer um dialógo com uma reflexão sobre o digital, investigando como o sujeito-navegador produz dizeres no Twitter e atribui sentidos sobre a xenofobia na Web.
 
Microblogs e Twitter: emaranhados de dizer em espiral
É que o mundo de fora também tem o seu ‘dentro’, daí a pergunta, daí os equívocos. O mundo de fora também é íntimo. Quem o trata com cerimônia e não o mistura a si mesmo não o vive, e é quem realmente o considera ‘estranho’ e ‘de fora’. A palavra ‘dicotomia’ é uma das mais secas do dicionário. – Clarice Lispector[6]

Nos últimos anos, o número de pessoas conectadas à rede mundial de computadores (Internet) tem crescido de forma vertiginosa e, consequentemente, a utilização das redes sociais virtuais tem ganhado seus dias de fama. Com isso, o cotidiano de muitos sujeitos-navegadores passou a ser discursivizado na rede com o efeito de relatar experiências pessoais, trocar e divulgar informações de uma localidade ou comunidades específicas, fazer falar posicionamentos sobre temas cotidianos e ainda estabelecer laços afetivos. Os microblogs são exemplo disso. Apresentam como traço a particularidade de colocar em circulação dizeres simples e curtos, desenhados pela rápida e curta troca de fomulações que a todo momento são atualizadas e com acesso que pode ser realizado por diferentes suportes e dispositivos tecnológicos.
Podem ainda ser definidos como um pequeno blog em que um dizer é atualizado frequentemente, replicado, retornado a ser re-dito e estruturado por um pequeno número de caracteres, utilizando, na maioria das vezes, até mesmo pela limitação do espaço para a escrita. Inscrevem-se aí diversas abreviações e a linguagem passa a ter um funcionamento muito próximo do discurso da oralidade (GALLO, 1992); sendo estruturados em uma ordem cronológica inversa. Como


[6] LISPECTOR, C. Perto do coração selvagem. São Paulo: Rocco, 1999.