Revista Rua


O discurso no Twitter, efeitos de extermínio em rede
The discourse on Twitter, extermination effects in net

Vivian Lemes Moreira, Lucília Maria Sousa Romão

Desse modo, o sujeito traça suas rotas de dizer costurando e emendando velhos e(m) novos sentidos, construindo e compartilhando novos arquivos. Assim, a convergência de que estamos tratando aqui, é configurada pela “convergência dos meios de comunicação, da cultura participativa e inteligência coletiva” (JENKINS, 2009, p. 29). Trata-se então de uma comunicação interativa evidenciada cada vez mais através das ferramentas das redes sociais na rede eletrônica, passando a influenciar (in)diretamente em diversos outros processos, práticas e discursos na sociedade, quais seja, na sociedade on-line e na off-line. Um exemplo seria o microblog Twitter[4], onde constantemente seus navegadores promovem mobilizações sociais através dos conteúdos altamente disseminados no sistema, influindo até na produção e circulação das informações na mídia impressa e televisiva e produzindo efeitos fora do espaço virtual.
Ao mobilizar o referencial teórico da Análise do Discurso de filiação francesa, temos como intento analisar os efeitos heterogêneos de sentidos fissurados por diferentes regiões da memória no microblog Twitter, e as condições de produção em que se dão as práticas sociais na ferramenta do referido sistema de microblogging, especialmente em relação a dizeres que circularam em outubro de 2010, período da eleição da primeira presidente brasileira. Em nosso corpus, identificamos sentidos de xenofobia contra os nordestinos, marcando, na ordem da língua, deslizamentos instaurados a partir de fragmentos deixados pelos sujeitos-navegadores no referido site.
 
Uma teoria sobre os sentidos em rede
Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada. – Clarice Lispector[5]
A Análise do Discurso (AD), fundada por Michel Pêcheux no ano de 1969 com a publicação dos estudos “Por uma análise automática do discurso”, fundou-se sobre três importantes pilares: os estudos da lingüística de Ferdinand Saussure, o materialismo histórico de Marx pensado por Althusser, da psicanálise de Freud reordenada pelas leituras de Lacan. Discurso, nesse referencial, deve ser tomado como efeito de sentidos, algo que não se confunde com um conteúdo sustentado por um indivíduo, nem mesmo


[4] http://twitter.com/
[5] LISPECTOR, C. Felicidade clandestina. Contos.Rio de Janeiro: Rocco, 1998.