Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

Introdução
 
Atualmente, no Brasil, há lutas que buscam a legalização da prostituição como profissão. Mas ainda não é algo concretizado, pois, a dificuldade dessa legalização passa por interditos na relação do trabalho com o corpo produzindo sentidos na atualidade. Nessa direção, parece-nos necessário compreender o trabalho na relação com o corpo e o corpo na relação com o trabalho e com o prazer. No caso da prostituta, o corpo é seu instrumento de trabalho, mas, ao mesmo tempo, a moral religiosa o institui como “templo sagrado”, assim, esse sentido produz, para a prostituta/prostituição, efeitos de que sua atividade transgride o lugar instituído pela moral social. Fazemos uso do corpo para o trabalho – trabalho braçal, trabalho intelectual, etc. –, pois é ele que nos permite produzir, porém, a meretriz, ao usar do corpo para atividades relacionadas ao sexo, foge ao que é determinado pela moral social como trabalho honesto, uma vez que o corpo da prostituta é usado para sentir/dar prazer.
Essa situação produz problemas em relação aos direitos e deveres das prostitutas e coloca em funcionamento toda uma memória constitutiva da prostituta/prostituição que é marcada de forma negativa. Esses sentidos foram construídos em relação à sexualidade, aos vários imaginários sociais sobre a mulher, sobre a prostituta na história produzindo efeitos que marcam o estigma social.
Nessa direção, discussões sobre a profissionalização da prostituição na atualidade, nos remetem aos cadastros policiais da cidade de Cáceres-MT, dos anos 60 e 70, que atualmente encontram-se no arquivo histórico do curso de História (NUDHEO), no Campus Universitário de “Jane Vanini”. Nesses registros, percebemos que a prostituição ora é marcada como profissão, ora não, produzindo uma dualidade que é constitutiva dessa atividade.
 
A construção dos sentidos: o corpo na relação trabalho x prazer
 
Foucault (2008, p. 117) ao falar da docilidade dos corpos, nos mostra a dominação do corpo como uma forma poder:
 
Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam.