Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

sujeito. Assim, é interessante, nesse estudo, perceber que falar sobre a prostituição, sobre a sexualidade ainda é algo que produz preconceito na sociedade atual.
Frente a essas colocações teóricas, nos deteremos na análise discursiva dos cadastros policiais que materializam os sentidos sobre a mulher e a prostituição, principalmente na relação trabalho-corpo-prazer, que produzem efeitos na prática da prostituição.
 
O equívoco constitutivo das/nas práticas de prostituição
 
Atualmente, o uso dos termos puta, prostituta, meretriz,entre outros, estão sendo questionados por movimentos que buscam o reconhecimento da prostituição enquanto “[...] uma profissão como outra qualquer” (RODRIGUES, 2009, p. 69). Esses grupos passaram a usar os termos profissionais do sexo ou trabalhadores do sexo. Trata-se, pois, do funcionamento do politicamente correto, que, segundo Orlandi (2002), apenas busca silenciar, apagar os sentidos que estão presentes na sociedade, principalmente em relação ao preconceito. Para a autora, o único modo de mudar os sentidos do uso de determinada palavra, é através da mudança das condições de produção dessas palavras, pois só assim elas podem sofrer um deslize, um deslocamento, ou seja, é necessário mudar as relações sociais para que os sentidos deslizem, desloquem e permitam que o preconceito tenha fim.
Desse modo, alguns grupos[3] que pregam a profissionalização da prostituição, não aderem ao uso dos termos puta, prostituta, meretriz, ao contrário, propõem mudanças sobre a forma de denominação da prostituição, dando assim, visibilidade apenas ao estigma social que a prostituta sofreu e ainda sofre. Ou seja, ao designar a prostituta como profissional, como trabalhadora tenta-se apagar o preconceito que essa atividade produziu ao longo da história. Portanto, ao dizer “somos trabalhadores, somos profissionais” produz-se uma tentativa de silenciamento do estigma social da prostituição para visibilizá-la enquanto “um trabalho como outro qualquer”, sem preconceito nenhum. Mas, enquanto os dizeres sobre a prostituta/prostituição se derem nas condições de produção atuais, a mudança de designação não produzirá nenhum resultado, porque o estigma social continuará produzindo seus efeitos, ou seja, os sentidos das palavras só mudarão se houver mudanças nas relações sociais em que esses termos estão inseridos.
Nessa relação com o trabalho aparece, então, o equívoco constitutivo das práticas


[3] Tais como “Associação das Profissionais do Sexo”; “Rede de Trabajadoras Sexuales de Latinoamerica y el Caribe”; “Trabajadores sexuales argentinas em acción por sus derechos”.