Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

Desse modo, vemos como a relação trabalho e corpo constitui o lugar do sacrifício, do sustento, do viver de acordo com as regras sociais (princípio da realidade), apagando (censurando) o corpo como instrumento de prazer (princípio do prazer), e também o interditando como instrumento de trabalho da prostituta, que, através do corpo, proporciona prazer.
Na tentativa de controlar a sexualidade, o prazer, os regulamentaristas da época buscavam não só controlar o lugar que elas deviam viver e se prostituir, como também manter as meretrizes sob o jugo da não satisfação sexual, ou seja, “[...] o ideal de puta para os regulamentaristas é a mulher recatada e dessexualizada, que cumpre seus deveres profissionais, mas sem sentir prazer e sem gostar de sua atividade sexual” (RAGO, 1985, p. 92). Nessa formulação, produzem-se como contradição os seguintes efeitos: a prostituta deveria ser “recatada” e “dessexualizada” ao realizar a prática da prostituição; ao realizar o seu trabalho não poderia/deveria sentir prazer.
A contradição reside na tentativa de apagar (censurar) o prazer para a meretriz, ou seja, a prostituta também deveria ser como a mulher honesta “recatada”, “dessexualizada” na atividade de prostituição, uma vez que lhe é cobrado, lhe é interditado esse lugar do prazer feminino.
Nessa relação, o trabalho não deveria se relacionar com o prazer, a meretriz deveria cumprir sua função (de dar prazer) sem senti-lo. Ou seja, a função do trabalho para a meretriz é de apenas provê-la financeiramente, pois, se caso a atividade exercida lhe proporcionasse prazer, os regulamentaristas da época determinavam que a mulher deveria, portanto, abrir mão do seu pagamento. Nessa direção, os efeitos produzidos relacionam-se com a contradição fortemente marcada pela relação de oposição entre o trabalho e o prazer.
Segundo Rago (2008), a meretriz era visualizada como a que vendia o corpo como mercadoria. Era, portanto, um objeto de dar prazer, mesmo sem amar ou sem ser amada, era em suma, vendedora e mercadoria, simbolizando a fragmentação do sujeito moderno, marcada pelo capitalismo.
O uso do corpo para atividade de prostituição constituía uma forma de resistência da prostituta, pois fazia uso de algo interditado (o corpo), com o qual além de se beneficiar financeiramente, poderia sentir prazer. Os sentidos produzidos nos mostram como a interdição, a censura de falar sobre sexo, está arraigada na sociedade através desse olhar negativo sobre a relação do corpo com o prazer. Nesse sentido, o corpo não serve apenas para o trabalho, para produzir de forma a contemplar os ditames do capitalismo, uma vez