Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

Assim, temos a incompletude como o real da língua, pois, “[...] toda língua é afetada por uma divisão, [...], que se sustenta pela existência de um impossível, inscrito na própria ordem da língua” (GADET e PÊCHEUX, 2010, p. 32). Desse modo, a incompletude é a possibilidade de produção dos sentidos, pois sem ela a língua/linguagem torna-se inconcebível.
Nessa direção, Gadet e Pêcheux (2010, p. 30) afirmam que:
 
Para os que sustentam que a língua trabalha com a existência de uma ordem própria, o real da língua reside naquilo que nela faz Um, a assegura no Mesmo e no Idêntico e a põe a tudo o que da linguagem cai para fora dela, nesse inferno ininteligível que os Antigos designam pelo termo de “barbarismo”: o campo do interdito na linguagem é, assim, estruturalmente produzido pela língua, do interior dela mesma (Grifos nossos).
 
Desse modo, pensar a língua como unidade faz parte de um imaginário, que permite que os sentidos possam ser determinados, restringidos, um eficaz trabalho da ideologia. Entrementes, todo sentido produzido “[...] é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro” (PÊCHEUX, 2008, p. 53), ou seja, os sentidos sempre podem vir a ser outros devido a características constitutivas da língua: a incompletude, a falha, o equívoco. Assim, essa concepção teórica considera que a língua não é transparente, sendo necessário um dispositivo que auxilie no acesso a sua materialidade, ou seja, a sua discursividade.
Do mesmo modo, a Análise de Discurso compreende o real da história, como sendo a contradição, que possibilita a mudança, o deslocamento, quando se tem o impossível, o alhures. Essa concepção teórica considera que a história deve levar em conta o sujeito, e assim, não pode ser tomada como uma simples sucessão de fatos, um relato, mas um acontecimento no discurso, ou seja, um modo de produção de sentidos.
Desse modo, a AD considera não a história propriamente, mas a historicidade, que se encontra no texto, considera, portanto, não partir da história para o texto, mas do próprio texto, uma vez que, através da “trama de sentidos”, a história constitui-se nele.
Nessa direção, a Análise de discurso, é vista como um processo de desnaturalização, que busca um distanciamento da ideologia, ou seja, busca ver na materialidade como as histórias são mobilizadas. Uma história é de um lado, fatos, acontecimento, e de outro, é a compreensão desses fatos tomados como acontecimentos. Nesse caso, desnaturalizar os sentidos que estão postos, é compreender que algo pode sempre tomar outros sentidos.