Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

Lagazzi nos mostra como a contradição é marcada pelo discurso produzindo sentidos. Nessa direção, afirma que a contradição é o que possibilita a mudança, o deslocamento, quando se tem o impossível, o alhures, ou seja, é “[...] a impossibilidade da síntese, reiterando a distância entre contradição e oposição” (LAGAZZI, 2011, p. 279).
Assim, a contradição é marcada como o algo a ser realizado, ou seja, é a produção de outro sentido que não está marcado pelo já dado, por isso, contradição não é o mesmo que oposição. A oposição marca o já dado, não sendo possível produzir outros sentidos, enquanto a contradição é o diferente, é a possibilidade de deslocamento.
Entrementes, Orlandi (2002) nos mostra que há discursos que são interditados de tal forma que não permitem a produção de outros sentidos possíveis, como é o caso da prostituta/prostituição. A produção dos sentidos sobre o imaginário da prostituta circula em torno de aspectos histórico-sociais, que visibilizam os sentidos sobre a prostituição produzindo o preconceito. Para a autora o preconceito:
 
[...] se constitui nas relações sociais, pela maneira como elas se significam e são significadas. Não é um processo consciente e o sujeito não tem acesso ao modo como os preconceitos se constituem nele. Vêm pela filiação a sentidos que ele mesmo nem sabe como se formaram nele. (ORLANDI, 2002, p. 197)
 
A AD busca, portanto, a compreensão dos sentidos em suas múltiplas possibilidades. Por isso, a produção dos sentidos ocorre através do funcionamento discursivo, de modo a que os sentidos possam sempre vir a serem outros, ou, nas palavras de Orlandi (2002, p. 197), “[...] os sentidos não podem ser os mesmos”. A partir dessa compreensão, temos noção do político, compreendido pelo viés da Análise de Discurso, como “[...] fato de que o sentido é sempre dividido, esta divisão tendo uma direção que não é indiferente às injunções que derivam da forma da sociedade tomada na história em um mundo significado e significante, em que as relações de poder são simbolizadas” (ORLANDI, 2005, p. 90). 
Pensando assim, chegamos à compreensão de que a produção de sentidos sobre a história da prostituição passa pelo viés das condições históricas e sociais. Incluindo-se os sentidos negativos sobre o imaginário da mulher, de forma geral, e mais especificamente, da meretriz. Esses sentidos negativos estão na base do estigma social, do preconceito que sofreram (e ainda sofrem) as mulheres que eram (e são) prostitutas.
Desse modo, o preconceito impede, segundo Orlandi (2002, 198), a produção de sentidos outros, pois, restringe-se ao que já está dado. Assim, para a autora, o preconceito