Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

está para a ordem da censura[2], que silencia “[...] sentidos possíveis que [...] não podem ser ditos”. O preconceito ocorre, então, na base do silenciamento dos sentidos, na interdição. Nesse caso, certos assuntos são silenciados pela sociedade, pois, são ainda considerados tabus, ou seja, passam pelo processo de interdição. A prostituição é um exemplo de tabu, não só ela, mas também toda uma história da sexualidade que foi sendo silenciada por uma sociedade mais conservadora.
Foucault (1988, p. 9) nos mostra que, na sexualidade do século XVII, “[...] ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem demasiado disfarce; tinha-se com o ilícito uma tolerante familiaridade”. Assim, falar de sexo era algo tido como comum, não era uma blasfêmia e muito menos algo que somente alguns pudessem falar. Mas, segundo o autor, os discursos sobre o sexo passaram para o “quarto do casal” e para os especialistas, pois somente estes detinham um saber que os permitiam falar sobre sexo.
Esse funcionamento sobre o sexo nos permite compreender de que forma os sentidos vão sendo constituídos e de que forma o silêncio produz sentidos: através do silenciamento de alguns dizeres para que outros predominem.
Dessa forma, nota-se que atualmente há uma gama de textos, imagens, filmes, sites que falam sobre sexo e sexualidade de várias formas e com vários sentidos. Mas, por outro lado, esse grande número de informações não significa que falar de sexo atualmente deixou de ser tabu, deixou de existir uma repressão sexual.
Em O Mal-estar na civilização, Freud (1930) nos mostra, como os sentidos foram sendo construídos a partir de muitos imaginários sociais, culturais e históricos que perpassam também os dizeres sobre a prostituição.
Nessa direção, para o autor, a própria ideia de civilização, de sociedade, se contrapõe com a de prazer, com a de sexualidade, pois através da sociedade foi se constituindo os modos de se viver, com regras, com direitos e deveres, constituiu-se, assim, o princípio da realidade, que se contrapõe ao princípio do prazer. Para o autor, esses dois princípios fazem parte do ser humano, o que põe em funcionamento, de um lado, o desejo de ser feliz, o imediatismo do prazer, independente de regras, convenções sociais (princípio do prazer), e, de outro, as regras, as normas do como viver em sociedade com o seu igual (princípio da realidade). Essa construção de sentidos perpassa o imaginário sobre a mulher e a prostituição e, dessa forma, sobre a própria sexualidade que constitui todo


[2] Conforme abordado em seu livro As formas do silêncio (2007).