Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

Nessa relação, o corpo feminino marca o lugar do privado, do interditado, e ao mesmo tempo, ele é “[...] exibido, apropriado e carregado de significação” (PERROLT, 2003, p. 14). A constituição da imagem da prostituta vai se produzindo, então, através da aparência, através do uso do corpo. Por essa razão, a prostituta é condenada a usar o corpo para obter lucro, através da satisfação sexual de outrem.
Para Foucault é no corpo que:
 
[...] se encontra o estigma dos acontecimentos passados do mesmo modo que dele nascem os desejos, os desfalecimentos e os erros; nele também eles [os desejos, os desfalecimentos e os erros] se atam e de repente se exprimem, mas nele também eles se desatam, entram em luta, se apagam uns aos outros e continuam seu insuperável conflito. (1979, p. 22)
 
Ou seja, o corpo é considerado no sentido da configuração biológica da espécie humana, mas também é material discursivo, pois, através de ambos os sentidos podemos compreender como a história, através dos fatos, através das marcas no corpo, reclama sentidos (HENRY, 1997).
Desse modo, a teoria discursiva a qual nos filiamos mostra-nos que há, na forma material, vestígios, marcas de ruptura que nos permitirão compreender, analisar, através dos gestos de interpretação, como o sentido faz sentido.
Nessa direção, a Análise de Discurso compreende, entre seus conceitos, a noção de sujeito, que se constitui pela linguagem, enquanto posição-sujeito. Do mesmo modo, compreende a história como processo de produção de sentidos, atravessada pela contradição; e a língua enquanto possibilidade de discurso, como materialidade onde encontramos o discurso, que para Pêcheux (2009) é efeito de sentido entre locutores, ou seja, é um “[...] processo que se desenvolve de múltiplas formas, em determinadas situações sociais” (ORLANDI, 2007b, p.54). Sendo assim, é o efeito produzido pela inscrição da língua na história e essa inscrição só pode ser vista através da língua, através do texto, enquanto lugar de materialização da ideologia.
A Análise de Discurso nos faz compreender, portanto, que há, na língua e na história, um real, que compreendemos como sendo da ordem do impossível: “[...] não descobrimos, pois, o real: a gente se depara com ele, dá de encontro com ele, o encontra.” (PÊCHEUX, 2008, p. 29), ou seja, não é algo já determinado, mas algo que possibilita a produção dos sentidos, porque o sentido não é estático, é construído por determinadas situações e diferentes sujeitos.