Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

que marca a prostituta/prostituição. Nesse entremeio, instituem-se as várias imagens projetadas sobre a prostituição que a insere, em alguns momentos, como profissão e, em outros, desqualificando-a como tal, interpretando-a como mero negócio, como veremos a seguir.
 
O cadastro policial
 
 
Nessas fichas encontram-se os dados básicos de um cadastro: nome, filiação, data de nascimento, cidade, nacionalidade, estado civil, identidade, residência, profissão, local de trabalho, ramo/negócio, procedência, infração, data/entrada. Logo em seguida há um espaço denominado “Observações”, como já mencionamos.
Em alguns dos registros encontramos profissões como costureiras, manicure, cabeleireira, etc. No caso, da ficha acima (figura 1) temos como profissão: costureira e como ramo/negócio: Atualmente, meretrício. Percebemos que há, portanto, um desencontro entre o que é profissão e o que é ramo/negócio.
A formulação – Atualmente, meretrício – produz um funcionamento em que ser meretriz é uma atividade recente, enquanto que ser costureira trata-se de uma atividade mais antiga. Essa diferença entre as formulações faz funcionar sentidos de que o sujeito possui uma profissão, mas que não atua nela ou ela é insuficiente para a manutenção própria e da família, sendo necessária a prática do meretrício, razão pela qual a ficha comporta o item profissão e o item ramo/negócio, que, no caso desse cadastro (figura 1), surgem de formas distintas.