Revista Rua


O corpo na relação trabalho x prazer
The body in relationship labor x pleasure

Fernanda Surubi Fernandes e Olimpia Maluf-Souza

contradição, pois o uso inadequado do corpo, ressaltado pelos valores morais e instituídos pelo discurso religioso, permanece produzindo seus efeitos e afirmando o estigma social para a prostituta, mesmo que ela seja considerada produtiva, conforme a ordem do sistema capitalista.
 
Considerações Finais
 
No batimento entre a paráfrase e a polissemia, a prostituição alcançou status de ocupação, pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), mas ainda não se coloca como profissão, no Brasil, apesar de haver, já há muito tempo, vários projetos de lei com tal finalidade. Mas, mesmo esse funcionamento moroso tem uma razão de ser, pois o trabalho com o corpo deve dignificar o homem e não produzir-lhe prazer. Assim, a negação do status de profissão às prostitutas funciona como um castigo, uma punição, pois as regalias conquistadas pelas profissões não devem alcançar as mulheres que usam o corpo para sentir/dar prazer. Portanto, há avanço e há retrocessos, há o mesmo e o diferente, há sentidos novos e sentidos recorrentes em relação às prostitutas/prostituição, pois a sua força de trabalho não pode/deve ser considerada como dignificante, mesmo com tantas ONG’s, mesmo com tantos projetos de lei do legislativo, mesmo com tanta luta pela causa.
Se considerarmos os modos de funcionamento capitalista de lidar com as situações sociais, a prostituição poderia até ser elevada à condição de profissão, uma vez que, nesses modos de produção, é o lado econômico que tende a prevalecer. Contudo, é importante assinalar que o discurso que prevalece sobre a prostituta/prostituição é o da moral, o da religião, principalmente pelo poder legislativo do país que, ainda hoje, interpelado por essas discursividades moralizantes, vota contra a legalização da prostituição adulta como profissão.
Desse modo, a interdição do uso do corpo na relação com o trabalho, visando a sentir/dar prazer, produz uma contradição permanente para a prostituta, pois ela constitui-se na contramão dos valores morais e mesmo do sistema capitalista, uma vez que ela é produtiva, mas a sua forma de produção não é aceita.
Entrementes, a contradição presente na relação trabalho-corpo-prazer demonstra, ao longo da história, que, por mais que se busque restringir, censurar, interditar o prazer, ele aparece em algum lugar, pois é constitutivo do ser humano e por isso, sempre encontra modos de escape.