atrativos do estado são o sol e o mar. Falaremos, também, em movimento de sentidos, devido ao pressuposto fundamental da suscetibilidade intrínseca dos enunciados de se tornarem outros, face à incompletude da linguagem e às determinações ideológicas. Na análise proposta, este movimento, este “tornar-se outros” do enunciado, possui, não um ponto de partida (origem), mas, no horizonte, uma memória discursiva, que é relevante dar a conhecer e que, portanto, retomaremos.
A história oficial justifica ser o Ceará, a “terra da luz,” por ter sido a primeira província brasileira a libertar os negros da escravidão. O epíteto “terra da luz, terra da liberdade” foi dado por José do Patrocínio, nos finais do século XIX e, à época, divulgado por intelectuais cearenses, produzia, naturalmente, efeitos de sentidos diversos dos que temos hoje. O discurso abolicionista atravessado pelos discursos do progresso e da civilização, impulsionados pelos ideais de modernidade[6] da época – especialmente os de urbanização, racionalidade e trabalho livre enquanto bandeiras de “evolução” social – determinavam esses sentidos. Analisando um videoclipe produzido no Ceará pós-mudancista, propomos investigar a deriva de sentidos de “terra da luz”, considerando o período abolicionista e o período mudancista. Observamos, também, uma convergência entre estes períodos no que concerne à projeção de uma imagem positiva do “estado” para o resto da nação, como observaremos no decorrer do trabalho.
No princípio era o mar, e o mar estava com o sol. E o sol era Deus.
Assim começa o vídeo Ceará, terra da luz: nas imagens de mar, falésias e do sol, tal qual o Deus onipresente (sujeito-mor do discurso cristão), embora não visto; mas sentido, ou melhor, denunciado pelo deslize da sombra do helicóptero de onde se captam as imagens[7].
[6] Segundo Giddens (1991:11), modernidade “refere-se a estilo, costume de vida e organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influencia.”
[7] Todas as imagens utilizadas nesse texto foram capturadas do Youtube, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=oTm5q6_pRWI