Revista Rua


Segregação e invenção na cidade: uma entrevista com Barba nos jardins do Museu de Arte Moderna - MAM/ RJ
Segregation and inventiveness in the the city: an interview with Barba at the gardens of The Museum of Modern Art - MAM/ Rio de Janeiro

Adriana Fernandes

filantropização da pobreza, vida matável/ vida nua[7] e privatização da cidade)[8].


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 PRIMEIRO TRABALHO
 
B[9]: Mas foi assim, eu peguei, Deus me iluminou nessa vida. Peguei aqui a ilha do Fundão, da ilha do Fundão fui para a Clonap lá no Caju.
A: Que que é a Clonap?
B: (...). Ali é um centro de operações da Petrobrás, já deve sair em outro lugar porque a Petrobrás cresceu muito de lá pra cá. Mas todas as lanchas pra manutenção, tudo saía de lá. De lá eu fiz o Copacabana Palace também, tudo Miraflon, tudo Miraflon. Eu estudei em São Paulo, fiz um curso de Miraflon, fiz o Vulcapiso, fiz o Miraflon. No colégio né, ele disse, 'Quem quer fazer o curso?' Eu me interessei e dei sorte, peguei obra boa aqui, caramba! Trabalhei dois anos aqui, direto praticamente.
A: Quando você chegou no Rio, você gostou, como foi?
B: Eu não tive tempo de conhecer o Rio não, não tive não. É porque na ilha do Fundão fiquei noventa dias preso lá, preso, quer dizer, o cara chegava em mim, eu confio em você, eu quero essa [inaudível] para amanhã. Foi a época que começou a chegar a computação, sabe? O computador era um monstro, tinha que botar rodapé de alumínio, que eu acabei aprendendo lá e não sabia. É o rodapé elétrico, tipo esse de imprensa, pra não botar o fio no chão e lambris também que eu não sabia. Ali foi muito bom, ganhei um dinheirinho ali.


[7]Homo sacer ou homem sacro é “portanto, aquele que o povo julgou por um delito; e não é lícito sacrificá-lo, mas quem o mata não será condenado por homicídio; na verdade, na primeira lei tribunícia se adverte que 'se alguém matar aquele que por plebiscito é sacro, não será considerado homicida'. Disso advém que um homem malvado ou impuro costuma ser chamado sacro” (AGAMBEN, 2002, p.196). E pergunta: “O que é, então, a vida do homo sacer, se ela se situa no cruzamento entre uma matabilidade e uma insacrificabilidade, fora tanto do direito humano quanto daquele divino?” (AGAMBEN, 2002, p.81).
[8] Ver, em especial, os artigos de OLIVEIRA (2007), SANTOS (2007) e TELLES (2007) para a caracterização de “neoliberalismo intensivo”.
[9] “B” e “A” são, respectivamente, Barba e Adriana.