Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

Introdução
 
Rolnik (2004: p.21) afirma que “desde sua origem cidade significa, ao mesmo tempo, uma maneira de organizar o território e uma relação política.” A cidade, tal como conhecemos hoje, é um fenômeno associado ao desenvolvimento de mercados e à fixação do modo capitalista como forma dominante de produção. Essa característica dá à cidade moderna formas, traçados e contornos que a diferenciam de todos os outros fenômenos de aglomeração precedentes[4]. A cidade tida como moderna, a cidade do capital, instaura uma nova configuração de urbanidade marcada pela hierarquização dos espaços, pela segregação socioespacial, pela centralidade do controle estatal, pelo incentivo ao desenvolvimento privado. Enfim, ela materializa as determinações do modo capitalista de produção, seus conflitos e suas incongruências.
Considerando a cidade como materialidade discursiva, constituída por/nas contradições do sistema capitalista, tomamos como objeto de estudo o discurso que se constitui na relação entre centro e periferia em Maringá, localizada no norte central do Paraná. De maneira geral, objetivamos explicitar o modo como se constrói as relações de sentido entre sujeito e espaço citadino, e como as materialidades envolvidas em tal processo expressam os conflitos simbólicos e políticos travados na constituição de sentidos normativos e normalizados. O que propomos é pensar, discursivamente, a cidade, a urbanidade e os sujeitos envolvidos neste processo, suas contradições, seus conflitos, suas vivências e a forma como se relacionam com o espaço.
Trata-se de compreender essa relação que se apresenta para o espectador corriqueiro como semelhante à de qualquer outra cidade (marcada pela segregação socioespacial), mas que, em Maringá, guarda especificidades próprias, reveladoras da contradição sob a qual se ergue a imagem desta cidade. Contradições que trazem à tona o real da língua e o real da história no cenário urbanizado[5].
De forma específica, buscamos explorar, discursivamente, intercâmbios e segregações simbólicas entre espaços-periféricos e espaços-centro, na referida cidade; entender como o urbano articula seus sentidos; analisar como esta articulação, materializada discursivamente no cenário periférico-central, significa o real da cidade, o


[4] Cf. também Rolnik (2004) sobre o desenvolvimento das cidades em outros períodos históricos. 
[5] O real da língua refere-se à impossibilidade de fechamento dos sentidos, ou seja, a língua, por ser uma estrutura relativamente autônoma, não determina completamente os sentidos. O real da história refere-se à inscrição da materialidade da língua, que é falha e ambígua, na história, num acontecimento simbólico que forma a memória podendo produzir equívocos (MORALES, 2007).