Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

Cordovil (2008) aponta ainda que a construção do espaço urbano em Maringá possuiu um caráter espetacular, nos termos de Guy Debord[1]. Após o planejamento inicial e a execução do primeiro plano diretor, em 1967, as características espetaculares do espaço urbano maringaense ficaram cada vez mais consolidadas. O primeiro plano diretor chegava a nomear a cidade como um ”exemplo nacional” de planejamento e desenvolvimento. Esse imperativo é fortalecido na década de 1980, quando do projeto do novo centro da cidade. O projeto Ágora, desenhado por Oscar Niemeyer[12], cria uma comparação direta entre Maringá e Brasília, endossando o discurso imagético da cidade como moderna. Mas o projeto não foi executado plenamente. O desenho monumental e espetacular proposto por Niemeyer serviu apenas como pretexto para a especulação imobiliária ocupar as zonas centrais da cidade. O espaço perde todo o seu caráter público e a imagem de progresso é representada pelo empreendimento imobiliário. Essas requalificações urbanas ignoraram a participação popular. Segundo a autora, a participação popular ficou contida na simples aceitação de uma única proposta viável, a de se manter a imagem da cidade moderna.
 
Assim, a tendência das “requalificações” urbanas é o desprezo sistemático da dimensão pública e social do espaço. Não existe o debate para a construção dos espaços e não se considera propostas alternativas. Como bem exemplifica a licitação para a concessão urbanística lançada pela prefeitura: o empresariado constrói a cidade. [...] A obsessão pela modernidade leva à construção sistemática de novos espaços que substituem a memória e a história urbanas em projetos que reconduzem a espetacularização da paisagem urbana de Maringá, sempre voltadas para a promoção imobiliária. Nos seus sessenta anos de fundação, a cidade procura apresentar o incessantemente novo. (CORDOVIL, 2008, p.10-11)
 
 
Como observamos, Maringá é representada por um discurso-imagético fortemente associado aos princípios da modernidade, do desenvolvimento, e a construção da sua paisagem urbana se movimenta em direção de sempre validar esse discurso. Essas características são tomadas aqui como condições de produção de outro discurso específico, o da relação entre centro e periferia, que desestabiliza essa imagem da cidade, fazendo com que o seu real irrompa.


[11] Guy Debord (1997), segundo Cordovil (2008), na obra A sociedade do espetáculo, compreende que as relações sociais são mediadas por imagens espetaculares, passando a realizar-se no domínio das aparências.
[12] Oscar Niemeyer é um dos mais reconhecidos arquitetos brasileiros, apontado como expoente da arquitetura moderna. Foi responsável por vários projetos importantes, como a construção de Brasília e a sede das Nações Unidas; a última em parceria com Le Corbusier, arquiteto francês, expoente da arquitetura moderna do século XX.