Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

momento em que ela se fala/significa, confrontando os discursos normativos pelos quais é falada/significada.
Para tanto, utilizamos como referencial teórico e metodológico a Análise de Discurso (AD) de linha francesa, formulada pelo filósofo Michel Pêcheux e desenvolvida no Brasil, principalmente, pela linguista Eni Orlandi.
            Como disciplina de entremeio, a AD elege a língua e a impossibilidade de fechamento dos sentidos, a história e seus acontecimentos e o sujeito e suas in-determinações como eixos constitutivos da sua compreensão. Conforme Orlandi (2003a, p. 25), “a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história”.  
            Pêcheux (2008) compreende a linguagem como lugar de conflitos políticos e simbólicos, em que os sentidos são movimentados, articulados e direcionados para a produção de um mundo logicamente estável, o mundo em que vivemos. Mas este mundo lógico não esteve sempre aí, já dado. Trata-se de uma construção histórico-social. Portanto, carrega em si os elementos ideológicos de sua formação. O filósofo entende a ideologia como princípio próprio de constituição da realidade. Assim, as materialidades históricas permitem com que possamos observar e compreender a formação e articulação dos sentidos, seus elementos ideológicos.
            No percurso discursivo que desenvolvemos, interrogamos como se dá a constituição simbólica dos espaços centrais e periféricos em Maringá e como se promovem a produção e o intercâmbio de sentidos que identificam esses espaços e os sujeitos que neles vivem.
       A cidade de Maringá é conhecida por ter se tornado, nacionalmente, uma “referência” em desenvolvimento e qualidade de vida. Imagem esta posta em circulação e propagada pela mídia. Uma rápida pesquisa em veículos jornalísticos pode demonstrar isso[6]. A cidade foi objeto de algumas matérias que ressaltam essas características. Dentre elas, podemos citar uma reportagem da revista Veja, edição 2070, de 23 de julho de 2008, que situa a cidade como uma das mais seguras do país, e uma reportagem da revista Época, que trabalha alguns pontos referentes ao desenvolvimento de Maringá[7].


[6] É importante ressaltar aqui que o objeto de nossa análise não é a imagem jornalística da cidade, mas sim o seu discurso urbano. A recorrência a matérias jornalísticas é algo que nos aponta como este discurso urbano está circulando e produzindo efeitos de sentido. Efeitos que se instauram num processo de visibilização e apagamento. Ou seja, para que certos sentidos possam circular é preciso que outros sejam apagados. 
[7]Essas matérias podem se consultadas em: http://veja.abril.com.br/230708/p_110.shtml e http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT940174-1664-1,00.html. Acesso em: 03 abr. 2010.