Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

significação está inserido, na quase totalidade, no espaço citadino, pois, como compreende Orlandi (2004: 11), “para nossa época, a cidade é uma realidade que se impõe com toda a sua força. Nada pode ser pensado sem a cidade como pano de fundo.” A cidade tornou-se, por excelência, o espaço de construção da vida social moderna. É em seus trajetos que os sentidos tomam corporalidade, que se materializam em diferentes espaços e de diferentes formas.
Os espaços são materialidades nas quais a linguagem exerce seu poder. O homem vai aprendendo e apreendendo o espaço na medida em que vive nele. Nesse sentido, o espaço é sempre o espaço do vivido, do experimentado. O sujeito produz seu discurso no espaço e, ao mesmo tempo, o espaço produz seu discurso no sujeito. Sujeito e espaço estão intimamente ligados em termos de produção de sentido (ORLANDI, 2004).
Explicitar o real da cidade, tal como a AD compreende, é o objetivo, propriamente dito, da análise que desenvolvemos. Para tanto, recorremos ao “flagrante urbano” como ferramenta metodológica e de análise. Como aponta Orlandi (2001, 2004), o flagrante urbano é “um lembrete” do real da cidade, é uma forma específica da narratividade urbana se materializar. São modos de dizer na e da cidade que desorganizam o espaço urbano, ou seja, é a inscrição do sujeito no espaço, sua gestualidade que revela a falha[9], onde o irrealizado irrompe com toda a sua força. Os flagrantes são gestos, inscrições de sentido, expressões, ações ou produtos em que o simbólico é materializado. Por fim, os flagrantes são atos significantes que podem causar um movimento de ruptura no mundo logicamente estável da urbanidade, permitindo com que a falha aconteça, com que o sujeito tenha infinitas possibilidades de se inscrever nesse mundo urbanizado.
 
Maringá e o discurso urbano
 
Maringá é uma cidade do norte central paranaense, fundada pela Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná (CMNP), em 10 de maio de 1947, como distrito de Mandaguari (localizada a 35 quilômetros), e elevada à categoria de município em 14 de


[9] Pêcheux (1995) afirma que a falha é algo que se dá junto com a interpelação ideológica do indivíduo em sujeito. O processo de interpelação do indivíduo em sujeito é estruturado por uma falha, pois este processo pressupõe a existência de formas infinitas de se manifestar. O inconsciente é sua própria in-determinação.