Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

O urbano (urbanizado), nessa perspectiva, apresenta-se como a forma logicamente estável de se conceber, de viver a cidade, ou seja, o meio pelo qual temos acesso ao que é citadino. A cidade é o espaço no qual desempenhamos a nossa condição de sujeitos urbanos, onde construímos uma complexa teia de relações e inter-ações pelas quais nos definimos. A cidade é “suplantada” pelo urbano, que se torna a forma primeira de imaginar a vida no espaço citadino. Estabelecer relações sociais nesse espaço é estabelecer relações urbanas, coma urbanidade e suas determinações.
 
[...] o urbano aparece como ‘catalisador’ do social. Em conseqüência, o urbanismo se apresenta como parte do imaginário que ‘interpreta’ o que é urbano, sobrepondo-se à cidade, de-limitando-a, desenhando seus sentidos (significando-a), assim como ao social. (ORLANDI, 2004: 63)
 
 
Esta sobreposição nos faz atentar para o fato de que o real da cidade é silenciado no discurso sobre a urbanidade[8]. Compartilhamos, então, da mesma concepção de Orlandi (2004: 34) acerca da relação cidade/urbanidade, entendendo que “há uma sobreposição do urbano sobre a cidade de tal modo que o [...] discurso do urbano silencia o real da cidade (e o social que o acompanha)”.
Orlandi (2001, 2003b, 2004) desenvolve uma abordagem da discursividade urbana que envolve três maneiras diferentes dessa se manifestar.
O discurso do urbano, como aponta Orlandi (2001), é o discurso institucional e institucionalizado, é o discurso administrativo que valoriza a ordenação, a ordem social, o equilíbrio. É o discurso que focaliza a importância da infra-estrutura como direito necessário a sujeitos urbanizados. De forma geral, é o discurso do planejamento urbano, do controle, da organização, do policiado. É a instância em que a realidade urbana “faz sentido” para os sujeitos urbanos. É um meio de justificar a urbanidade dos espaços e de determinar seus graus. É o discurso do politicamente correto. É um discurso político que busca estruturar uma determinada organização em detrimento de outras possibilidades. Por último, é o discurso do urbanista que homogeneíza os modos de significar o espaço pelo seu uso ordinário. Esse é o discurso logicamente estabilizado, que reduz o social ao urbanizado.
Há também o discurso sobre o urbano. Segundo Orlandi (2004), é uma forma de silenciar o real da cidade, de silenciar os espaços. Silêncio este que impele o espaço a produzir uma resposta significativa, fazendo com que o real da cidade irrompa.  Roure


[8] Logo mais à frente, esclarecemos como a AD compreende o real da cidade.