Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

movimento, de negação e aceitação, para se estruturarem. São discursos que se constituem na falha, no conflito, do jogo político entre os sentidos. 
A pesquisa apontou para um funcionamento discursivo de espaços centrais-periféricos e espaços periféricos-centrais. Os espaços centrais-periféricos são espaços que ocupam o centro propriamente dito da cidade, mas que estão simbolicamente tomados por representações e práticas populares. São espaços em que o imaginário de cidade moderna vem abaixo, pois demonstram como o centro “monumental” da cidade, que, como apontou Cordovil (2008), renegou a participação popular, foi apropriado pela participação social e política desse sujeito.
Como observamos, esses trajetos, delimitados pela antiga estação rodoviária, de um lado, e pela Avenida Duque de Caxias, do outro, encravado no centro comercial da cidade, estão inteiramente tomados por práticas populares. É o comércio variado de coisa qualquer. Pequenas lojas que se multiplicam infinitamente. Em uma só quadra, identificamos mais de oito lojas que vendem coisa qualquer. É a pequena porta que faz jogo do bicho, que conserta sapato, que vende artesanato, que corta cabelo a preços baixos, que vende aviamentos de costura; é a casa veterinária, a lojinha que vende doces, o pequeno “centro de empréstimos” a aposentados e funcionários públicos; é o vendedor ambulante de raízes, de perfumes, de produtos pirateados, de pequenos utensílios domésticos; é a pequena banca que vende lanches rápidos na rua; enfim, a imagem projetada de cidade desenvolvida, representada pelo comércio de alto valor na negação ou exclusão do popular, dissolve-se e/ou se esfacela no imbricamento com o comércio de menor valor, com o comércio de pequenas coisas, de produtos e serviços que, em tese, só interessam a uma população segregada social e economicamente, uma população à qual não foi dada nenhuma alternativa de participação social e política, a não ser se enquadrar na imagem propagada da cidade. Esse “enquadramento”, e a forma como ele acontece, é o discurso que explicita o real da cidade, momento em que o conflito, a falha, irrompe como constituinte dessa imagem citadina.
Os espaços que funcionam, discursivamente, como periférico-centrais são espaços periféricos, propriamente ditos, mas há neles uma incorporação de práticas que são centrais. Observamos as regiões de bairros periféricos e operários que se encontram no limite territorial da cidade com o município de Sarandi (localizado a 15 quilômetros do centro de Maringá). São os bairros Sanenge III, São Silvestre e Bertioga. Neles notamos que há sempre um espaço que funciona como central: é o posto de saúde, a igreja ou capela, o boteco, o campo de futebol, o salão comunitário, a escola, a creche,