Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

ou seja, são espaços que promovem a interação da população e que demonstram a forma como ela se relaciona com o poder estatal. É o popular constituindo uma trama de relações que busca fortalecer sua autonomia diante desse poder, sua independência enquanto identidade cultural específica, embora esses mesmos elementos que, simbolicamente, podem representar essa autonomia prendem também esses bairros em relação ao sistema organizacional estatal. Daí indícios da contradição constitutiva – o que segrega liberta e o que liberta segrega - a resistência acontece no próprio controle, o efeito de autonomia é fruto do silenciamento das relações de controle posto pelo imaginário de cidade “moderna”.
Essas observações vão, ainda, ao encontro daquilo que afirma Martín-Barbero (2004: 284): “também o centro de nossas cidades é com freqüência um lugar popular de choques e negociações culturais entre o tempo homogêneo e monótono da modernidade e os de outros calendários, o das estações, o das colheitas, os religiosos.” Fazem-nos atentar para o fato de que existe um campo de lutas e embates políticos, históricos e sociais nos espaços, e que são os efeitos de sentidos produzidos por esses embates que constroem intercâmbios de sentido. De certa maneira, a forma como concebemos e vivenciamos a cidade e seus espaços é já um efeito de sentido produzido por esses intercâmbios e embates.
 Para Martín-Barbero (2004), a experiência comunicacional contemporânea, do fim do século XX, é marcada pelas redes comunicacionais e pelos fluxos informacionais. Essas instâncias provocam uma modificação na sensibilidade e na própria organização do saber, pois geram o que o autor (2004, p.258) nomeia como “o despedaçar-se das fronteiras espaciais e temporais” que, por sua vez, provocam uma alteração nas formas de simbolização e ritualização do social. Martín-Barbero afirma ainda que esse processo tem um componente fundamental, a técnica. Como forma global de produção, ela permite o surgimento de um universo não-centrado “ou cujo centro se acha em qualquer lugar” denominado de universo de pantopia que “concentra todos os lugares em um e em que cada um é replicado em todos os demais” (2004, p.259).
Nesse contexto, os limites e barreiras espaciais são apagados.  Com isso, a massa marginal urbana que, durante muito tempo, invadia o espaço do centro da cidade re-significando-o, como forma de protesto, agora dá forma à cidade. Como o próprio autor