Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

(2001) aponta que esse discurso apaga a heterogeneidade que constitui o espaço urbano impedindo que o sujeito possa reconhecer outras formas de simbolização do social a não ser o normativo, ou seja, é o sujeito reconhecendo a urbanidade no lugar comum, na sua apreensão do que seja a cidade.
Seguindo a formulação de Orlandi (2001), há o real da cidade que representa a fala fora do lugar no discurso urbano, ou seja, uma materialidade discursiva específica, reveladora do conflito político/simbólico travado no espaço urbano. Materialidade essa capaz de desconstruir a própria urbanidade, de revelá-la em suas contradições constitutivas. Quando os sujeitos estabelecem modos de dizer e constroem formulações que des-organizam o espaço burocrático e burocratizado do urbano, o real da cidade irrompe. O real da cidade é o lugar onde a falha do discurso urbano acontece, onde o irrealizado salta, onde encontramos uma fala des-organizada, fora do lugar, que desconstrói a normatividade do discurso do e sobre o urbano, construindo outras formas de produzir sentido no espaço urbano. É no real da cidade que o urbano (politicamente delimitado) é posto em questão pelo simbólico, pela constante possibilidade de poder ser “o outro”.
O real da cidade é a forma pela qual os sujeitos atravessam a urbanidade e produzem falas des-organizadas; falas que desestruturam a forma como a cidade é significada pelo político, permitindo que ela própria se signifique na sua materialidade simbólica. É no real da cidade que acontece também a atualização do discurso urbano, pois é nele que pulsa a dinâmica citadina – do caos, da des-organização cotidiana. Assim, o real da cidade é o espaço simbólico de significação da condição citadina; é onde o conflito irrompe como constitutivo de uma determinada dinâmica social – a urbana; ou seja, é no real da cidade que a linguagem toma trajetos e materialidades históricas e simbólicas que expressam os modos de produção de sentido da própria cidade. O real da cidade é justamente o impossível, o equívoco que escapa pela língua (ORLANDI, 2004).
Tal elaboração de Orlandi (2001, 2003b, 2004) permite-nos compreender a narratividade urbana como uma formulação material linguística da cidade (a cidade falando de si) ao mesmo tempo em que é atravessada pelo sujeito e suas formas de significar, construindo corporificações, gestualidades, trajetos urbanos por onde a cidade, o sujeito e o social se falam, significam-se.
O social aqui está representado pelos sujeitos, que necessitam de espaço para se significar, e, ao se significar, significam o próprio espaço que ocupam. Esse processo de