Revista Rua


A relação centro-periferia na discursividade da cidade
The center-periphery relationship in the discourse of the city

Tiago Roberto Ramos, Renata Marcelle Lara Pimentel

A relação centro-periferia em Maringá
Para compreender as formulações de sentido na relação entre centro e periferia em Maringá, empreendemos observações discursivas, configuradas conjuntamente a contribuições etnográficas[13], por espaços centrais e espaços periféricos da cidade. Há uma descrição desses espaços, em Araújo (2007), que demonstra, detalhadamente, a formação da paisagem urbana maringaense. Aqui vamos nos ater às descrições que forem mais representativas do real da cidade.
As observações discursivas foram realizadas durante duas semanas, entre janeiro e fevereiro de 2010. Tais observações nos levaram a ver que existe um funcionamento discursivo adequado e estruturado de tal forma a dar sustentação a um imaginário de Maringá como cidade moderna e desenvolvida. Esse mesmo discurso é estruturado por um conflito constitutivo, pois, pelo que aponta a pesquisa, as relações de sentido estabelecidas no interior dessa configuração do espaço urbano negam e desestruturam esse imaginário ao mesmo tempo em que se formam por ele. Todos os espaços, centrais e periféricos, são representação e negação desse imaginário, pois são falhos. O que há é uma contradição constituinte do imaginário, e o real da cidade escapando por fragmentos desse mesmo imaginário.
Ao falar da realidade citadina latinoamericana, Canclini (2007) demonstra como existem diversas cidades em uma só e como os trajetos e percursos urbanos que as pessoas fazem cotidianamente interferem na concepção do que seja a cidade. O autor trata diretamente da cidade do México, marcada pela falta de planejamento, pelo crescimento desorganizado, pela pluralidade e heterogeneidade cultural. No caso maringaense, há a singularidade do crescimento totalmente planejado e controlado pelas forças políticas em jogo. Como vimos, impera um imaginário específico acerca do que seja a cidade, pois há um só planejamento urbano que, como aponta Cordovil (2008), sofreu requalificações que só fizeram endossar o imaginário presente. Os discursos analisados, que se formulam nos espaços centrais e nos espaços periféricos de Maringá, apontam essas características, ao mesmo tempo em que as negam, mas se utilizam desse


[13] É importante ressaltar que não pretendemos realizar uma etnografia propriamente dita, tendo em vista as especificidades teórico-metodológicas que demarcam cada área de investigação. Apenas exploramos características do olhar etnográfico para nossa inserção em campo, reconfigurando-as para nossas observações de materialidades discursivas. As características do olhar etnográfico ao qual nos referimos estão contidas em Geertz (1989). Para o autor, a etnografia é a busca por estruturas significantes, por meio da percepção do observador. Aqui, admitimos a busca por estruturas significantes, mas que se baseiam em materialidades discursivas específicas, inscritas historicamente, e não na percepção do observador individual.