Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

seja, a aprendizagem da L2 pela geração mais jovem seria a garantia de não se repetir a história dos antepassados, que, falando somente a L1, foram alvo de estereótipos e preconceitos sociais, dizimando os Terena no próprio território de reserva e da L1, como garantia da indianidade.
As assertivas sobre a aprendizagem da L2 são justificadas numa relação de poder do menor para o maior e consequentemente para o usufruto do mais-gozar. A ideologia que constitui a palavra estratégia (no discurso de SP1 e referenciada por SP2) condensa a política linguística dos Terena: falar a L2 para saber o que/como o branco pensa e poder traçar autodefesa de resguardo da etnia, para ocupar espaços que o branco ocupa, negados ao indígena, enfim: saber/poder falar a L2 como manifestação de poder.
Os discursos dos sujeitos, a todo o momento, foram revestidos de uma ideologia simultânea de mecanismos de defesa e de poder, reiterando a presença da metáfora do Narciso-Vampiro contemplada por Eckert-Hoff (2008), ou seja, ao mesmo tempo em os sujeitos buscavam a autocontemplação (a exemplo de Narciso) por meio do “julgar-se capaz” e com desejos de igualdade frente à sociedade hegemônica é corrompido e não pode realizar ação de autocontemplar-se (Vampiro) porque, externando suas novas identidades, a sociedade majoritária não aceitaria e colocaria em risco as conquistas étnicas já alcançadas.
O jogo duplo de subserviência do indígena em relação ao branco, de certo modo, coloca-os numa esfera estratégica a exemplo da teoria do camaleão também citada pela autora: a camuflagem do réptil é condição essencial para sua sobrevivência, fato que não se diverge do Terena, isto é, fazer o “jogo” da sociedade dominante reforça o meio estratégico de camuflagem que garante a continuidade da etnia.
É possível compreender que as representações trazidas nos discursos dos docentes (SP1 e SP2) reforçam a premissa de que o discurso desnuda-nos, exterioriza-nos, e que a façanha ou ousadia em procurar analisá-los e tentar compreendê-los exige a observação de um atravessamento do discurso pelo acontecimento, ou seja, da história desse povo desde a Guerra do Paraguai ao momento da formação e atuação do docente indígena na educação.
Ademais, a duplicidade de defesa e de poder ficaram tão emaranhadas e tão interdependentes que não podemos afirmar ser um índio Terena imutável, com identidade fixa, e mais ainda, nem tampouco definida, o que pode ser muito bem explicado pela teoria do caleidoscópio de Cavalcanti e César (2007) pela multiplicidade de cores que o objeto revela conforme o movimento/mudança deste. A constituição do