Revista Rua


Do digital às digitais mo Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): (Re) Interpretações da História Política na cidade em movimento
From the digital to the fingerprints in the Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): the political History (re)interpretations in the city in movement

Angela de Aguiar Araújo e Luciana Leão Brasil

A memória discursiva constitui-se de um conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos (ORLANDI, 2007, p. 33). Isso implica dizer que para que o que falamos faça sentido é necessário que já faça sentido antes. A memória discursiva refere-se ao já-lá:
 
Existem sentidos já sedimentados que constituem o domínio da memória, do já-dito, que por efeito ideológico, se apresentam como o conjunto de evidências, de informações, de realidades reconhecidas e aceitas por todos, as quais são codificadas pela língua de maneira mais clara e possível. É nesta instância que os efeitos da objetividade e da literalidade são produzidos e que a interpretação, ao mesmo tempo se dá, se apaga enquanto tal, criando a ilusão de que esses sentidos são desde sempre assim e devem continuar assim para sempre. Seria este o nível da interpretação constitutiva, do interdiscurso, da ideologia, i. e., da História, nível inconsciente e ao qual não temos acesso direto. História essa que não se situa, mas que consiste numa trama de sentidos. (RODRÍGUEZ, 2003, p. 57)
 
Esse sentido já antes, os saberes anteriores, não nascem do sujeito. Segundo Payer (2003, p. 144), os saberes “nem habitam apenas o indivíduo isoladamente, mas remetem, também eles, à existência de um corpo histórico de traços discursivos que constituem o espaço memória”. Segundo a autora as palavras modificam de sentido conforme o lugar de onde falamos (esse lugar faz parte tanto da memória, onde se encontram inscritos os sentidos, quanto de uma situação objetiva) e que “um sinal limite de distensão entre as memórias discursivas consiste justamente na atribuição de diferentes sentidos às palavras” (idem, p. 145). A memória discursiva é o lugar onde irrompem as transformações advindas do processo discursivo da interpretação. A memória discursiva faz parte de um processo histórico resultante de uma disputa de interpretações para os acontecimentos presentes ou passados. Para Courtine (1990), a linguagem é o tecido da memória. Há uma memória inerente à linguagem e os processos discursivos são responsáveis por fazer emergir o que, em uma memória coletiva, é característico de um determinado processo histórico. Assim o observador dos painéis produzirá associações a partir do que está vendo, recortando acontecimentos e relacionando sentidos da história política de Córdoba.
As digitais, forjadas por artimanha de um artista, eternizam algo que constitui uma discursividade ali presente (as “huellas”) apontando para um lugar de exclusão, de (des) limite, de segregação (ORLANDI, 2009). Em A Casa e a Rua: uma relação política e social, Orlandi formula que a forma da cidade e a forma sujeito estão inseparáveis. Afirma que o modo como o espaço é disposto é uma maneira de configurar sujeitos em suas relações e de significá-los. Espaço em que os sujeitos e seus