Revista Rua


Do digital às digitais mo Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): (Re) Interpretações da História Política na cidade em movimento
From the digital to the fingerprints in the Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): the political History (re)interpretations in the city in movement

Angela de Aguiar Araújo e Luciana Leão Brasil

Neste trabalho pensamos que não há somente uma sinalização, no espaço urbano, dos locais que simbolizam a luta pelos direitos humanos, mas há uma narratividade do urbano como marcas simbólicas que afetam a constituição do sujeito urbano a partir de um olhar organizador dos fatos históricos da cidade.
Entender a opacidade que perpassa uma instalação artística afixada sobre a fachada de um antigo Centro Clandestino de Detenção, que nos dias atuais funciona como um Sitio de Memoria, possibilita a “ressurreição” de efeitos de sentido adormecidos e de efeitos de sentido silenciados: um ex-centro de detenção que cede lugar a um Sitio de Memoria, um outro espaço enquanto natureza transformada.
O Sítio de Memória mostra a resistência no mesmo espaço (ex-centro de detenção), a resistência da cidade histórica de Córdoba (Sitio de Memoria) à organização urbana: a resistência do urbano, a resistência da narratividade urbana. Araújo e Ferreira (2012) ressaltam a importância daquilo que rompe com os discursos hegemônicos sobre a urbanização como possibilidade de irrupção de um novo dizer naquilo que se confira como a evidência do urban(izad)o. Assim a noção de espaço – sítio não nos é validada simplesmente por aquilo se dá como evidência histórica de verdade, enquanto transparência dos sentidos na constituição do sujeito histórico e consciente, este resultante de mecanismos sustentados pelo trabalho político e científico em uma sociedade capitalista e democrática, onde se apregoa a garantia da igualdade de condições de enunciação e de participação para todos os cidadãos. Ao contrário, é enquanto espaço simbólico, marcado pelo político/pela contradição, que o sítio se mostra produtivo para esta análise.
Orlandi (2008) fala de uma ordem do discurso urbano. Essa ordem funciona no domínio do simbólico, pois se sujeita ao equívoco e, segundo a autora, há um real da cidade. Aí mora a questão da compreensão da narratividade urbana, seus gestos, enfim suas leituras. A autora menciona também uma organização urbana que se caracteriza por uma projeção do imaginário sobre a cidade que afeta os seres simbólicos em suas particularidades, quais sejam: urbanistas, administração pública, subjetivas.
Diante dessa organização urbana há toda uma construção empírica que não foge à regra: silencia as reais necessidades histórico-materiais do espaço enquanto ordem. Nós sujeitos, então, nos dispomos a ele. Desta forma, em razão da subjetividade do espaço, este se torna unidade e dispersão de sentidos, de sujeitos e de objetos. Como é o caso das “huellas”.