Revista Rua


Do digital às digitais mo Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): (Re) Interpretações da História Política na cidade em movimento
From the digital to the fingerprints in the Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): the political History (re)interpretations in the city in movement

Angela de Aguiar Araújo e Luciana Leão Brasil

5. Considerações Finais
 
A impressão digital de cada indivíduo é única, mas isto fica em suspenso ao pensarmos as digitais dos painéis como símbolos da coletividade de sujeitos que formam um.  A impressão das digitais é então um gesto de interpretação (im)posto na identidade/identificação de uma coletividade: cada nome sozinho pode nada significar, mas um conjunto de todos os nomes redobra a possibilidade de união de forças com um sentido de restituição (do “corpo”, da dignidade, dos direitos, da possibilidade de dar forma, corpo e voz ao desaparecido, saindo do anonimato imposto pelo centro clandestino).  Numa impressão digital, o sujeito se filia a redes de sentidos institucionais, a uma sociedade reconhecidamente de direitos e deveres. A digital enquanto marca do espaço urbano, na ambiência do urbano.
Jean Paul Thibaud (2008), em A Ambiência, trilhando caminho em direção a uma perspectiva internacional, elabora um novo olhar para o conceito de ambiência. A ambiência não pensada somente em suas particularidades (arquitetônica, puramente física, matematicalizada), mas em um alargamento de seu significado, propiciando a emergência do sensível e da experiência estética:
 
Ao proceder desse modo, ela tenta emancipar-se das perspectivas normativas demais em matéria de ambiente, fazer valer a atividade do sujeito da percepção e o papel das práticas sociais na concepção sensível do espaço construído, advoga em favor de abordagens plurissensoriais e torna possível uma atenção às situações ordinárias da vida urbana. (THIBAUD, 2008, p. 35)
 
Ambiência é fazer acontecer. Uma metáfora do olhar em que os fatos demandam sentidos: o olhar, o pensar, o refletir e o significar num trabalho intenso de interpretação. Assim as digitais podem permitir uma interlocução através da revelação de um espaço da cidade que aprofunda questionamentos: desenha um roteiro histórico, da história, na história ao dar a ver uma realidade desconhecida por muitos, mas ao mesmo tempo reconhecida por tantos outros. Uma narrativa histórica substitui um roteiro artístico e turístico desenhando um novo itinerário dos dizeres inscritos no urbano: nomes de presos, mortos e desaparecidos políticos que tomam forma de um. As digitais como um efeito de tecnologia que tenta restituir uma existência que estava na incógnita de um sistema político.