Revista Rua


Do digital às digitais mo Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): (Re) Interpretações da História Política na cidade em movimento
From the digital to the fingerprints in the Sitio de Memoria (Córdoba, Argentina): the political History (re)interpretations in the city in movement

Angela de Aguiar Araújo e Luciana Leão Brasil

memorável (e, portanto, digno de um tratamento que permite sua preservação) pelo trabalho das ciências e/ou das políticas públicas dedicadas aos objetos da memória. Um relato que representa-apresenta-reapresenta, ao pedestre (habitante, turista, trabalhador, etc.), uma série de eventos – ainda que dispersos – permitindo assim interpretações que dariam contornos de significação para a história da cidade, tendo em vista o quadro crono-logicamente possível pelos elos passado – presente, antes – depois, causa – consequência.
Em meio ao mosaico composto por imagens e por sons (placas, letreiros, publicidades, luzes, cores, carros, corpos, vozes, buzinas, músicas, plantas, edifícios, etc.), o histórico disputava sentidos para o urbano, num espaço onde o apelo comercial se impunha. Mas foi a partir do movimento de aproximação/distanciamento na tentativa de enquadramento (daquilo que nos parecia uma intervenção artística) para tomadas de fotos que algo se destacou: havíamos acabado de capturar algo na cena urbana a partir de “flagrantes de um olhar (um corpo) em movimento” (ORLANDI, 2004). Mas o que era esse algo? Estávamos diante das “huellas” (uma palavra, em espanhol, muitas vezes citada durante o evento em Córdoba, mas por nós desconhecida) ou, como um grito de um olhar sinalizou, “é uma digital”.
A resposta daquela que, no quadro, se antepunha ao “visto” foi: “onde?” O questionamento foi seguido pelo apelo: “Veja atrás de você!” O gesto de enquadramento foi repetido algumas vezes por ambas até que percebemos uma placa que indicava ser aquele lugar um Sitio de Memoria, sítio este localizado na altura do número 64/66, no centro histórico, Pasage Santa Catalina: Museo de Sitio y El Archivo Provincial de la Memoria. Este lugar funcionou durante os anos 70 e início dos 80, como um Centro Clandestino de Detenção, tortura e extermínio. O espaço que hoje é ocupado pelo Sítio da Memória, foi conhecido como Departamento de Informações da Polícia de Córdoba (D2), segundo informações obtidas através do folder institucional distribuído no museu, organizado pela Comissão e Arquivo Provincial da Memória.
Durante o período acima mencionado, aproximadamente 20.000 pessoas teriam passado por ali, tendo sido detidas em razão da militância política. O Departamento de Informações da Polícia da Província de Córdoba (D2) foi criado para reprimir essa ação política considerada crime contra o regime político vigente à época, contra o governo e contra a província de Córdoba.